Secretaria Municipal de Cultura - SMC
Museu de Escravidão e da Liberdade - Discurso de posse

21/03/2017 13:18:00


MUSEU DA ESCRAVIDÃO E DA LIBERDADE

POSSE DO GT

 

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A diversidade cultural está estampada na logomarca da nossa Secretaria de Cultura e se estabelece como diretriz principal que norteia as nossas ações. Assim propomos a criação do MUSEU DA ESCRAVIDÃO E DA LIBERDADE, na Região Portuária do Rio, em localização próxima ao Museu de Sítio Arqueológico Cais do Valongo/Cais da Imperatriz e como centro de memória do mesmo.

 

Lá em meu discurso de posse em janeiro, eu já dizia que,

"Cada ação precisa promover a diversidade e a expressão de identidades; estimular a integração social e contribuir para a cultura da paz; combater o preconceito de raça, de religião, de orientação sexual e de gênero. A Cultura não convive com a intolerância. Somos católicos, umbandistas, evangélicos, budistas, candomblecistas, ateístas, espíritas, muçulmanos, hinduístas, judeus e muitos frequentam mais de uma religião, como por exemplo, a igreja e o terreiro, num sincretismo bem brasileiro. Cultura é forma de expressão, modos de criar, fazer e viver das populações."

 

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Países tocados pela herança da Escravidão Transatlântica, o maior movimento de migração forçada da humanidade, encontram-se frequentemente diante do dilema entre esquecer ou relembrar estes passados na busca de uma sociedade mais justa e mais humana.

 

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O Atlas do Comércio Transatlântico de Escravos, de D. Eltis e D. Richardson, aponta que quase metade de todos os africanos trazidos como escravos para as Américas vieram para o Brasil: cerca de 4,68 milhões

Destes, mais de 2 milhões desembarcaram no Rio de Janeiro, sendo mais de 500 mil pelo Cais do Valongo

 

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Se a escravidão foi abolida há mais de cem anos, é inegável que muitos grilhões permanecem em nosso inconsciente coletivo

 

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A história e os impactos da escravidão alinhavam nossa herança colonial e cultural a dinâmicas e exclusões socioeconômicas que perpassam toda a sociedade.

Resultam também na criação de uma vibrante cultura brasileira, multivocal e multifacetada, rica em matrizes culturais, cores e sabores

 

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A expressão do desejo de construir um Museu da Escravidão e da Liberdade no Rio de Janeiro suscitou imediatamente caloroso debate.

 

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"Construir um Museu da Escravidão e da Liberdade no Rio de Janeiro consiste na oportunidade de celebrar um Brasil culturalmente rico, valorizando as conquistas do povo negro e contribuições da cultura de matriz africana, e de se refletir profundamente sobre as influências de nosso passado escravocrata na situação de exclusão social na qual ainda vive boa parte dos afro-brasileiros e no latente racismo que prevalece em nossa e outras sociedades.

 

Tratar o legado da escravidão sob a ótica da verdade e da reconciliação é o maior desafio para a construção do Museu da Escravidão e da Liberdade."  

 

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O Museu da Escravidão e da Liberdade seguirá lógica de construção conjunta com a sociedade, e os seguintes conceitos norteadores:

•      Desenvolvimento de baixo-para-cima, com transparência, escuta e participação da sociedade, contando narrativas pela voz de seus protagonistas

•      Escravidão como parte de uma narrativa maior de construção da cultura e sociedade brasileira

•      Museu da Escravidão e da Liberdadecomo local seguro para coletar, preservar e relembrar as memórias dolorosas do passado, com o objetivo de promover reconciliação e celebrar a indestrutibilidade do espírito humano e da agência pessoal

•      Museu da Escravidão e da Liberdadecomo parte de uma Rota de Herança Cultural Africana na região do Cais do Valongo / Cais da Imperatriz

•      Museu construído a partir de práticas sustentáveis, em suas instalações físicas, em seu modelo de gestão e de financiamento.

 

 

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Muita gente tem me perguntado sobre o Grupo de Trabalho que estamos dando posse hoje. Esse GT, criado por decreto municipal, tem por objetivo fazer um mapeamento inicial nos arquivos, coleções, programas, ações, legislação e projetos existentes no âmbito dos órgãos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, os quais referem-se ao tema da escravidão e da herança africana. 

O trabalho inicial é justamente avaliar o que já existe e dar continuidade, no caso de ações e programas ou utilização, no caso de acervos, no futuro Museu da Escravidão e da Liberdade. Como exemplo, citamos o grande acervo oriundo das pesquisas arqueológicas no Sítio Arqueológico Cais do Valongo/Cais da Imperatriz, sob a tutela do IRPH, um dos integrantes desse GT, e que deverá ser amplamente pesquisado em parceria com universidades e outros centros de documentação e pesquisa.

O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, outro membro do GT, já se propôs a organizar um primeiro seminário aberto sobre fontes documentais, esforço inicial para mapearmos o que já foi produzido e documentado no Brasil e no mundo sobre o tema.

Teremos ainda a retomada do Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana, criado por decreto municipal em 2011 e que vinha sendo coordenado pela CDURP, outro ente participante do GT. Vamos retomá-lo, agregando outros territórios, como o Armazém Central das Docas Pedro II, tombado pelo IPHAN definitivamente em 2016, formar guias, incrementar a sua visitação.

O trabalho desse grupo é transversal e diverso, já que envolve várias secretarias municipais com membros de várias formações profissionais. Esses se juntam ainda à coordenação do IPHAN-RJ na candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio Mundial, já que o Prefeito reforçou o seu apoio, assinando junto com o IPHAN Nacional a carta de compromissos enviada à UNESCO, em fevereiro de 2017. Um desses compromissos, é justamente agregar ao Sítio Arqueológico Cais do Valongo / Cais da Imperatriz um espaço de memória, o que não é senão um dos eixos principais do futuro Museu da Escravidão e da Liberdade.

 

Outros acervos importantes se juntarão ao do Cais do Valongo no futuro Museu, como a Coleção do Museu de Magia Negra, tombado pelo IPHAN em 1937, em fase de cessão para a Secretaria Municipal de Cultura; o acervo do Centro Cultural José Bonifácio; entre outros.

 E para não perdermos tempo, instalamos esse Grupo  de Trabalho aqui no Centro Cultural José Bonifácio, um local criado para tratar da memória do povo negro. Vamos atuar para que esse centro de referência já seja a semente do Museu que queremos criar junto com vocês. Aqui vamos nos reunir, planejar, conversar e compartilhar idéias, depoimentos, memórias, como esse documentário que estamos exibindo na sala ao lado sobre Carolina de Jesus. E emprestar livros sobre essa temática, na Biblioteca Popular da Gamboa.

Com esse encontro hoje estamos já fazendo com que o Museu começe, e já sendo visitado, com a doação e exposição de sua  1ª peça, o cadeado, e sendo abençoado pelas Baianas do Abaraté! 

 

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Serão 40 meses intensos de trabalho para construir nosso Museu de forma grandiosa, participativa. Iniciando esse longo caminho, em breve teremos uma oficina participativa com vocês, as principais lideranças do Movimento Negro, quando se constituirá um conselho consultivo, que acompanhará e opinará em todas as fases de desenvolvimento do projeto. Como resultado dessa oficina, teremos o fio condutor do Museu e seu conselho constituído.

Vejam as etapas de desenvolvimento:

 

 

 

MACRO ETAPA 1 – 18 meses

FASE I - ESTUDO PRELIMINAR

·       Planejamento Inicial – criação do GT e seminário sobre fontes documentais

·       Estudo das melhores práticas e referências (com museus nacionais e internacionais)

·       Planejamento e execução do Processo Participativo – oficina com seminário internacional com apresentação de Museus similares

·       Análise de Públicos e Mercado

·       Planejamento Institucional

·       Planejamento físico e territorial – local da sede, edifícios do Circuito, e seu entorno

 

FASE II - ESTUDO DE VIABILIDADE

Elaboração do programa funcional

Gerenciamento do desenvolvimento do Projeto

Estratégia para Desenvolvimento de Conteúdo

Definição de Programas: atividades do Museu

Estratégia para Desenvolvimento de Coleções

Constituição do Museu

Avaliação Final de Viabilidade e Sustentabilidade

 

MACRO ETAPA 2 – 24 meses

FASE III – EXECUÇÃO DO PROJETO

Gerenciamento da execução dos projetos

Suporte para a constituição do Museu

Gerenciamento da ocupação final do edifício

 

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O NOME PROVISÓRIO

 

MEL – MUSEU DA ESCRAVIDÃO E LIBERDADE

 

A sigla MEL, do futuro Museu da Escravidão e Liberdade

faz alusão a um derivado da cana-de-açúcar essencial na alimentação dos escravos no Brasil colonial – o melado ou mel de engenho.


Altamente nutritivo, o mel de engenho tinha vital importância na senzala  como fonte de carboidratos e ferro capaz de garantir aos escravos energia necessária para os pesados trabalhos nas fazendas de açúcar.


O alimento adoçava a vida puro, misturado à farinha, com mandioca, cará ou inhame, acompanhado de pão ou de queijo e de tantas outras formas.


No século XXI, 

o MEL será alimento para a fome de informação, 

de memória, 

de reparação

e de liberdade.

 

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PROVÉRBIO BANTU

Ubuntu ngumtu ngabanye abantu

Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas

 

Não há bem-estar individual sem bem estar coletivo. O mal que recaiu sobre a comunidade escravizada, hoje afeta a sociedade como um todo.

 

Enfrentemos pois nossas "histórias contestadas" para, por fim, nos regenerarmos coletivamente celebrando uma sociedade múltipla, plural e diversa.

 

Vamos então comemorar o iniciar o início de nossa caminhada para a construção de Nosso Museu da Escravidão e da Liberdade!

 


Arquivos relacionados:
  » Nilcemar – posse GT.pdf -   -