Rei de Ifé é recebido pela secretária municipal de Cultura no Cais do Valongo
14/06/2018 16:44:00
O Rio de Janeiro recebeu, na última terça-feira (12/6), a visita do rei nigeriano Oba Adeyeye Enitan Babatunde Ogunwusi, o Rei de Ifé, líder político e religioso do povo iorubá. O monarca conheceu o Cais do Valongo, na Gamboa, Centro do Rio de Janeiro, local que foi a principal porta de entrada, nas Américas, de negros africanos escravizados e titulado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

A secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, afirmou que a visita do rei de Ifé permite estreitar os laços entre o Brasil e a Nigéria promovendo um intercâmbio entre esses países.
"É com imensa honra que recebemos Ooni de Ifé. Para mim, é muito significante, como primeira Secretária Municipal de Cultura negra, estar recebendo Sua Majestade em nosso país. Foi no Cais do Valongo que desembarcaram milhões de escravizados. Muitos não resistiram à viagem e foram enterrados nesta região. Por isso a importância de construir o Museu da Escravidão e da Liberdade aqui. Os escravos foram despidos de sua identidade, mas a cultura não pode ser arrancada de nós", avaliou a secretária.
Durante o evento, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio (SMC), Ooni de Ifé assistiu a apresentações de diversos grupos de matrizes africana e, em seu discurso, sugeriu que as pessoas deixem o passado para trás e celebrem com alegria o presente.

O evento no Cais do Valongo contou com a presença também dos grupos Filhos de Gandhi e Jongo do Pinheiral, além de diversas lideranças religiosas. O rei de Ifé Arole Oduduwa, 43 anos, estava acompanhado de uma comitiva composta por cerca de 120 iorubás, entre empresários, autoridades religiosas, reis, rainhas e intelectuais, dentre os quais destaca-se o prêmio Nobel de Literatura Wole Soyinka. Na tarde desta terça-feira, no Teatro João Caetano, no Centro do Rio, Ooni de Ifé distribuiu bênçãos e disse que o povo iorubá precisa de unir e não se preocupar com a intolerância religiosa.
"Os orixás estão em tudo: na água, na terra e no ar. Então, porque existe intolerância religiosa? As pessoas que destroem os axés não bebem água ou não respiram? É tempo de nós nos amarmos. Isso se chama humanidade. O homem tem que ser mais gentil com o outro", defendeu.
Rei de Ifé e SMC firmam parceria em projeto cultural e espiritual
Na quarta-feira (13/6), a secretária municipal de Cultura do Rio, Nilcemar Nogueira, firmou uma parceria com o rei Oba Adeyeye Enitan Babatunde Ogunwusi para a criação da Casa de Herança Oduduwa, durante cerimônia no Museu da Escravidão e da Liberdade. O objetivo é estreitar os laços com os descendentes da matriz iorubá e unir mais o povo afrodescendente que está espalhado pelo mundo. A Casa de Herança Oduduwa será uma conexão direta entre Rio e o palácio de Ifé para intercâmbio cultural, científico e espiritual.

Em seu discurso, Ooni de Ifé ressaltou a importância de recuperar a autoestima e convidou a todos a se unirem mais. "É de fato uma grande honra estar aqui hoje para fazermos e começarmos uma nova história. Precisa ser o fim da falta de autoestima do povo negro. O espírito que está para baixo precisa então se elevar. Nossos ancestrais foram escravizados mas não eram escravos. Eu repito. Eles foram escravizados mas não eram escravos. A origem do sangue real corre nas veias de todos os afrodescendentes. Precisamos então dar as mãos para continuarmos a crescer".
A secretária de Cultura afirmou que a visita de Ooni de Ifé evoca a ancestralidade em todos e ajuda a desenterrar uma memória que não consta nos livros didáticos. "Ele deixa uma lição de amor, de pertencimento e de valorização".