29/05/2018 10:15:00
Com as bagagens cheias de sonhos, sete jovens cineastas do Rio acabam de retornar de Londres, onde participaram da conferência "Creative Economy Network". O grupo foi selecionado entre 170 alunos da Nave do Conhecimento de Triagem, todos moradores de comunidades cariocas, que concluíram o projeto Cinema CriaAtivo Film School, com aprendizagem nas áreas de roteiro, direção, fotografia e montagem. Alexsandro Pizziolo, Ana Clara Pereira, Nathália Rodrigues, Isabella Geoffroy, Rudson Amorim, Isabela Baker e Leandro de Manginhos ficaram uma semana na capital inglesa e apresentaram os cinco curtas-metragens vencedores que produziram ao longo de nove meses (maio de 2017 a janeiro de 2018) no curso oferecido no equipamento da Prefeitura do Rio.
O projeto é resultado da parceria da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação (SMDEI) com a organização social Instituto Cultural Pólen e da Creative Wick, e financiamento do Newton Fund, do governo britânico. Os curtas participaram da disputa que começou com 15 filmes submetidos à votação popular pela internet e avaliação de um júri técnico formado por especialistas de audiovisual. Na capital inglesa, os brasileiros representantes dos filmes "A paz que ainda virá nesta vida", "Bolinho de Chuva", "Além da pele", "Vandinho", "Reconfigure" e "Donizete" trocaram experiências com cineastas britânicos no evento organizado pelo British Council com a Queen Mary University e a People's Palace Projects.
"Tivemos a oportunidade de viver um sonho. Nenhum de nós jamais imaginou algo tão grandioso. Somos da periferia, não temos dinheiro, mas temos garra e talento. Dentre tantas coisas, o que mais nos encantou foi nos deparar com a plateia inglesa chorar de emoção ao assistir nossos filmes. A realidade que a gente vive nas comunidades retratada por nós mesmos comove o mundo inteiro", explica Alexsandro, diretor do curta "Bolinho de Chuva".
O curso recebeu 2.088 inscrições, entre as quais 50 candidatos foram escolhidos com base nos critérios de renda, proporcionalidade de gênero, moradores de comunidades de regiões periféricas, com idade entre 16 e 24 anos, além de comprometimento com práticas comunitárias. E esse é um dos objetivos do curso: multiplicar os conhecimentos para os jovens das comunidades.
A orientação já está sendo seguida por Leandro Santos de Paula, 22 anos, o Leandro de Manguinhos, um dos premiados. Fotógrafo do filme "Reconfigure", ele montou uma turma de cinco alunos e dá aula de fotografia na sala de sua casa.
"Descobri o que quero fazer na vida: cinema. E, se possível, levar minha experiência àqueles que quiserem. Voltei para as minhas origens, mas minha cabeça ainda está em Londres", conta entusiasmado.
A SMDEI já planeja uma nova edição do projeto para o próximo ano. O subsecretário Leonardo Soares está animado com esta perspectiva e divulga que a prefeitura já encaminhou à ONG Creative Wick e ao governo britânico a manifestação formal para o prosseguimento do projeto.
"Já estamos trabalhando para viabilizar o segundo ano do intercâmbio. Por meio do Cinema CriaAtivo Film School começamos a levar o audiovisual da periferia para o mundo. A criatividade independe da condição social. Tudo é uma questão de oportunidade e a Prefeitura está empenhada nesse processo. A Nave do Conhecimento de Triagem tem toda a estrutura para o cinema e o convênio com os ingleses subsidia todos os custos. A economia criativa acelera a retomada do crescimento com a qualificação e o emprego. Estamos no caminho certo", afirma o subsecretário.
Ana Clara Pereira, 22 anos, roteirista do filme "Reconfigure", mora na Fazenda Botafogo, em Coelho Neto. Ela conta que sempre estudou em colégios públicos e jamais abandonou os seus sonhos. Com total dedicação aos estudos conseguiu passar para a UFF, onde cursa o segundo ano de Cinema e Audiovisual.
"Houve um momento em que quase desisti de tudo, pois me via num meio elitista, apesar de ter uma origem extremamente humilde. Conheci a CriaAtivo Film School aqui na Nave do Conhecimento. Neste lugar, as pessoas são avaliadas pelo talento e pela força de vontade. A ficha custou a cair quando pisei em Londres. Agora sei o que posso alcançar e sinto que nossa viagem apenas começou", diz Ana Clara, que já pensa em roteirizar um longa metragem contando a façanha dos jovens cineastas que emocionaram o público da terra dos Beatles.