Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Rio ganha maior galeria a céu aberto do mundo inspirada nos valores olímpicos

16/08/2016 17:12:00  » Autor: Ricardo Albuquerque # Fotos: Paula Johas


Um corredor de painéis grafitados transformou o Boulevard Olímpico do Porto Maravilha, no Centro do Rio, na primeira galeria a céu aberto do mundo inspirada nos valores olímpicos (amizade, respeito e excelência). Com mais de dois quilômetros de extensão, o mural exibe a equipe de refugiados que disputa os Jogos Olímpicos Rio 2016 e as pinturas de 20 grafiteiros dos mais variados estilos, na fachada dos armazéns 7 e 8 e muros que interligam as construções. 

 

 

— Em vez daquela sombra da Perimetral, agora há um corredor cultural multicolorido que dialoga com a cidade numa área que está totalmente revitalizada, destacando uma orla belíssima, repleta de atrações. A estampa dos refugiados é um legado que nunca mais será esquecido, o que torna a arte urbana um instrumento inspirador e renovador — disse a coordenadora do projeto GaleRio e curadora da iniciativa, Cristine Nicolay.
 

 

Na Praça Muhammad Ali, uma baleia de chapa de aço, medindo nove metros por quatro, completa o cenário em forma de balanço infantil. Iniciativa do EixoRio, o GaleRio amplia a área multicolorida da Região Portuária, que desde julho abriga o mural Etnias, de Eduardo Kobra, maior trabalho do gênero feito por um só artista ao longo de 3 mil metros quadrados. As imagens retratam cinco rostos que representam os continentes que disputam as competições esportivas no Rio.

 

 

— Participar dessa ação é gratificante devido ao simbolismo histórico desses atletas. Tive de conhecer um pouco da história de cada um deles para entender melhor quem eram esses personagens que seriam pintados. Houve uma identificação natural com os refugiados porque foi através de um projeto social há 12 anos que consegui desenvolver minha arte e ser reconhecido — destacou o retratista e grafiteiro Cety Soledade, que desenhou e pintou os rostos junto com o grafiteiro Sini.

 

 

Os grafiteiros usaram traços lineares e expressivos para reproduzir o rosto dos atletas. A equipe de refugiados é formada por cinco corredores do Sudão do Sul (Anjelina Nadai Lohalith e Rose Nathike Lokonyen, pelo feminino e James Nyang Chiengjiek, Paulo Amotun Lokoro e Yiech Pur Biel, no masculino); pelos judocas do Congo Popole Misenga e Yolande Bukasa Mabika; os nadadores da Síria Rami Anis e Yusra Mardini; e o maratonista etíope Yonas Kinde.

 

— Os artistas merecem parabéns pelo trabalho sobre os despatriados porque ajuda a entender a atual configuração geopolítica do mundo. Quem está sem pátria, permanece longe de sua cultura, de sua casa e de seus princípios, provando que precisamos de mais paz, mais amizade, mais tolerância, mais solidariedade — analisou o professor da Uerj, Ivan Amaro, que levou a filha Alícia, de 12 anos, para conhecer o novo painel. Pai e filha pegaram ônibus em Copacabana, desceram na Cinelândia e embarcaram no VLT Carioca para chegar ao Boulevard Olímpico do Porto.

 

 

O muro entre os armazéns 6 e 7 ganhou os traços coloridos de KajaMan. A fachada do armazém 7 foi ocupada por painéis, isolados em partes de quatro por seis metros cada, dos artistas Bands, Bobi, Cazé, Duim, Gil Faria, Juliana Fervo, Heitor Corrêa, Ment, Meton, Memi, Pakato, RafaMon, Sini, Sark e Spam. O muro dos armazéns 7 e 8 receberam artes de Marcelo Lamarca e Mario Angel. Além da baleia, Acme ocupou toda a frente do armazém 8, em frente ao Aquário do Rio, com um painel aquático.

 

 

— Estou encantada. Tudo isso é muito inspirador. Desse lugar mágico é possível tirar várias ideias de estampas para criar coisas interessantes que vão fazer as pessoas refletirem sobre o mundo, a vida e a raça humana — enalteceu a design de moda, Carolina Azevedo, 20 anos, na companhia do amigo Gabriel do Bonfim, 21. Eles vieram de trem de Campo Grande até a Central do Brasil, onde pegaram o metrô até a estação Uruguaiana e seguiram a pé até o Boulevard Olímpico do Porto.

 

 

Na companhia dos netos Gabriel (9), Tiffany (7), Lívia (7) e Moiséis (5), a aposentada Ana Maria Rodrigues, 64, ficou deslumbrada com os painéis pintados ao longo do corredor cultural do Boulevard Olímipico. Moradora de Botafogo e frequentadora assídua da Praça Mauá desde a inauguração do Museu do Amanhã, Ana Maria apoiou a iniciativa do EixoRio enquanto as crianças aprovaram o balanço de ferro em forma de baleia:

 

 

— Esse ambiente está muito seguro e colorido. Esses painéis são infinitamente superiores aqueles muros descascados e sem vida. Dá gosto trazer as crianças porque toda hora tem uma novidade. Agora, eles descobriram essa baleia de ferro para se balançar. Vai ser um custo tirar eles daí.

 



O projeto GaleRio teve início, em 2014, na Zona Norte, com a ocupação de 6 mil metros quadros de muros da Linha 2 do metrô, incluindo as estações Triagem, Del Castilho, Inhaúma, Coelho Neto, Colégio e Vicente de Carvalho.

 

Na Zona Sul, estampou personagens da praia na base dos postos 7 ao 13 na orla, do Arpoador a São Conrado. Numa outra ação, os versos do maestro Tom Jobim na letra da música "Copacabana" foram retratados por 25 artistas que revitalizaram os 1,5 mil metros quadrados de muros nas saídas do Túnel Velho, que liga Copacabana a Botafogo.
 




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