Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Prefeitura inaugura a exposição coletiva R.U.A. no Espaço GaleRio

08/06/2016 00:21:00  » Autor: Ricardo Albuquerque # Fotos: Paula Johas


A Prefeitura do Rio inaugurou, nesta terça-feira (07/06), a exposição coletiva de grafites "R.U.A" no Espaço GaleRio, em Botafogo. Com cenas do cotidiano das favelas, a mostra reúne o trabalho de 17 grafiteiros das zonas Norte e Oeste e da Baixada Fluminense, integrantes do grupo 021 Crew. Os artistas usaram técnicas realistas, cômico-realistas, surrealistas, caricaturas, wild style, 3D e aquarela para transformar o casarão da Rua São Clemente na réplica de uma comunidade carioca. Paralelo à inauguração, a campanha Criarte EixoRio arrecada material de desenho e pintura, como giz de cera e lápis de cor, para ser doado às escolas municipais das zonas Norte e Oeste. A iniciativa do Insituto EixoRio — núcleo de articulação urbana da prefeitura e responsável pelo GaleRio — está aberta ao público de segunda a sexta, das 10h às 18h, até 22 de julho.

 

 

— Abrir as portas para esses trabalhos é reconhecer a essência dessa arte que tem a ver com a raiz do grafite. Ao oferecer a oportunidade de visibilidade, o EixoRio promove a inclusão e, ao mesmo tempo, provoca as pessoas e as empresas que nunca entraram numa favela para ver que lá também se produz cultura e de alta qualidade — destaca Cristine Nicolay, coordenadora executiva do Instituto EixoRio e responsável pelo Espaço GaleRio.

 


 A mostra reúne obras de Jean Poul, Rodrigo Sini, Dani, Bomb1, Nextwo, Ice, Kdao, Fil, Lone, Índia, Splif, Izy, Blopa, Mello, JCS, André Deco e Ram. A exposição é inspirada nos mutirões de arte realizados pelo coletivo na periferia, que reúnem centenas de artistas e moradores a fim de recuperar residências e comércio.

 


— O grande objetivo da 021 é fazer da favela uma galeria a céu aberto. A maioria das pessoas que vive em comunidade nunca entrou em museu, nem sabe direito o que é uma galeria, mas a gente faz questão de ir até lá e colorir tudo. O mais interessante é que as pessoas participam e a gente desperta nos mais jovens o interesse de aprender a usar o grafite de forma saudável, tornando o ambiente mais agradável — explicou Felipe Cristiensen, o Fil, 31 anos, morador de Cosmos, um dos idealizadores do movimento com Jean Poul dos Santos, 26, que reside em Senador Camará.

 


No segundo andar do GaleRio, o visitante constata o que há de bonito ou singular em uma favela e o que há de feio ou tenebroso. Os traços dos grafiteiros são inconfundíveis e, em alguns casos, engraçados e multifacetados, como a mistura de elementos comuns do cotidiano, como bancas de jornais, biroscas e animais. A imagem de uma menina negra encara o observador com ar de desconfiada ao lado de rabiscos infantis, preparando o visitante para uma jornada instigante, como o realismo que inspirou um dos quadros de Splif. Ele pintou uma bela mulher, cercada por animais transmissores de doenças, como pombos, ratos e baratas, mas que fazem parte do dia a dia de quem mora nas comunidades.

 


— Para mim é tudo muito novo, ainda mais retratado dessa maneira. É interessante porque provoca indagações, mostrando um mundo vizinho ao meu mas que realmente eu ouço falar, penso que sei como é, mas na verdade nem faço ideia da verdadeira condição dessas pessoas — analisou o professor de história Márcio Azevedo.

 


Cinco totens grafitados como rebocos de muros são ocupados por telas de diferentes estilos. Dois tubos de PVC fazem as vezes de postes de luz e recebem a arte de JCS, idealizador do projeto Chuva de Cores, que ocupa postes da cidade: no teto, fios embolados com pipas e chuteiras penduradas; nas paredes, as comunidades já grafitadas após um mutirão.

 


Criada em março de 2015, a 021 (referência ao código de área telefônica do Rio de Janeiro) tem por objetivo unir diferentes segmentos da cultura hip hop, como artistas de rua, MCs, DJs e Bboys para a realização de mutirões de arte em favelas, que acontecem pelo menos uma vez por mês. Dinâmica e colaborativa, a ação voluntária tem por objetivo revitalizar as comunidades e, com isso, elevar a autoestima dos moradores por meio de intervenções urbanas e do poder transformador da arte e da cultura.
A Crew já realizou mutirões em favelas de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Bahia. O artista Jean Poul, explicou que o público alvo dos artistas são as crianças de comunidades.

 

Espaço GaleRio 

 

O Espaço GaleRio está instalado no casarão 117 da Rua São Clemente, em Botafogo, onde salas exclusivas para grafiteiros, artistas de rua e empreendedores sociais permitem que sejam traçadas as estratégias de expansão da arte desenvolvida nas ruas da cidade. Uma das ideias é oferecer cursos e oficinas para estimular o aprendizado e a troca de experiências. O casarão tem 350 metros quadrados e quatro andares.
 


O GaleRio não só apoia os artistas urbanos como trabalha para que a sociedade entenda que a arte urbana faz parte da cultura do Rio. O GaleRio teve início na Zona Norte, com a ocupação de 6 mil metros quadros de muros da Linha 2 do metrô, incluindo as estações Triagem, Del Castilho, Inhaúma, Coelho Neto, Colégio e Vicente de Carvalho.

 

Na Zona Sul, estampou personagens da praia na base dos postos 7 ao 13 na orla, do Arpoador a São Conrado. Numa outra ação, os versos do maestro Tom Jobim na letra da música "Copacabana" foram retratados por 25 artistas que revitalizaram os 1,5 mil metros quadrados de muros nas saídas do Túnel Velho, que liga Copacabana a Botafogo. 




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