17/04/2015 15:09:00 » Autor: Juliana Romar / Fotos: Ricardo Cassiano e SMA
Em comemoração ao Dia Mundial da Voz, celebrado no dia 16 de abril, a Prefeitura do Rio realizou na última quinta-feira, nas dependências do Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova, um evento de capacitação para os servidores com palestras, apresentação do "Coral Atrás da Nota" e distribuição de folders com informações e orientações sobre o Programa de Saúde Vocal do município.
Iniciado em setembro de 2003, o programa é uma parceria entre as secretarias municipais de Administração, Educação e Saúde. Seu objetivo é oferecer treinamentos para prevenir a ocorrência de alterações na voz que possam diminuir, comprometer ou impedir a atuação profissional, bem como promover tratamentos de recuperação vocal aos docentes da rede municipal de ensino. Atualmente, o programa conta com 17 fonoaudiólogos, sendo 12 profissionais lotados nas dez Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) e cinco atuando na Gerência de Perícia Médica.
Professora do Município do Rio há 14 anos, Sonia Maria Figueiredo Santos, 61 anos, sentiu por várias vezes sua voz falhar, mas nunca acreditou que pudesse ter algum problema vocal. Mas o diagnóstico de um otorrino confirmou, em 2011, que Sonia precisava de tratamento. Ela procurou ajuda e encontrou na prefeitura o Programa de Saúde Vocal do Professor.
- Eu sempre achava que era gripe ou alergia, procurava um médico e era sempre tratada com pastilhas e antibióticos. Nunca ficava boa e tinha muitas recaídas. Chego a dar 11h de aula por dia e uso muito a voz. Meus alunos já são grandes e muito barulhentos e, por isso, preciso muitas vezes falar alto. Por causa disso, cheguei a tirar duas licenças, em 2010 e 2011, mas quando comecei o tratamento na prefeitura melhorei muito. Hoje, já dou aulas normalmente e estou muito satisfeita com o resultado – disse a docente da Escola Municipal Roma, em Copacabana.
Ao longo desses 11 anos, mais de 12 mil professores já participaram dos treinamentos, dos quais menos de 5% precisaram se afastar da sala de aula por adoecimento vocal. Com relação a realização de tratamento, 3.500 mestres receberam auxílio de fonoaudiólogos, sendo que 93% deles permaneceram em sala de aula durante as sessões. Além disso, o programa garantiu que 53% dos professores licenciados retornassem para a regência ainda durante o tratamento e que 29% dos readaptados também voltassem para as salas de aula.
Uma das professoras readaptadas que retornou à docência foi Trindade Gomes Botelho, 50 anos. Ela começou o tratamento em 2011, mudou seu estilo de vida, sua postura e conseguiu, inclusive, ser aprovada em um segundo concurso para a Prefeitura do Rio. Atualmente trabalhando em duas unidades educacionais na Rocinha, Trindade é só elogios ao programa que a ajudou a retomar sua carreira:
- Além da minha atividade no magistério, sou cantora. Mas eu não tinha consciência do meu problema de voz. Quando descobri fiquei magoada e muito triste. Mas, logo me interessei pelo programa porque eu queria ficar boa. Aqui encontrei tudo o que precisava. Os profissionais elevaram a minha autoestima, a equipe me acalmou, me ensinaram a hidratar a garganta e a fazer exercícios vocais e foi excelente. Fiquei encantada com o apoio que eu tive aqui e já estou praticamente curada. Sou muito grata à prefeitura que me ajudou, me acolheu e me valorizou como profissional e ser humano.
O programa foi desenvolvido diante do grande número de professores municipais licenciados e readaptados por alterações vocais. Dessa forma, ao serem admitidos eles participam de uma capacitação, em que recebem orientações sobre o uso correto da voz, os cuidados para a prevenção das doenças, além de formas de tratamento e acompanhamento. Durante o treinamento, os professores recebem uma apostila contendo um resumo de hábitos vocais saudáveis e nocivos e exercícios vocais e de respiração. Além disso, eles também podem trocar dicas e experiências entre si. As aulas têm duração de 3h a 6h e acontecem nos auditórios das CREs. Ao final, todos recebem um certificado de participação.
- O trabalho realizado pelos fonoaudiólogos é muito importante para esses professores que chegam aqui fragilizados porque não conseguem trabalhar, se socializar, conversar em casa e acham que não vão mais poder dar aulas. Mas, a partir do momento que eles se conscientizam da importância do tratamento, eles mudam o comportamento e levam os novos hábitos para o dia a dia. É um programa que trabalha a autoestima do profissional e a melhoria da qualidade de vida também – explicou a coordenadora do programa, Marcia Mehta.
Entre alguns hábitos vocais saudáveis estão a ingestão regular de água em temperatura ambiente, uma alimentação equilibrada, falar devagar, com boa dicção e boa postura corporal. Já entre os nocivos, os hábitos de falar demais, discutir com frequência, gritar, tossir, pigarrear, ingerir bebidas alcoólicas em excesso e fumar são fatores prejudiciais à voz.
A professora Mariana Ferraz Mendonça, 33 anos, que dá aulas no Ciep Dr. Antoine Magarinos Torres Filho, no Borel, já superou o problema de ter que gritar na sala de aula. Diagnosticada com um coágulo em uma das pregas vocais, ela conta que os novos hábitos que adquiriu com o tratamento já refletiram também no comportamento dos alunos:
- O Ciep é um lugar difícil de trabalhar porque as paredes não vão até o teto e o barulho de outras turmas acaba atrapalhando as aulas e isso fazia com que eu gritasse muito. Hoje, através dos exercícios que aprendi com a fonoaudióloga, consigo reger normalmente e os alunos, por verem que eu não elevo mais a voz, também pararam de gritar. E quando necessário, faço uso de um microfone para ajudar. Antes de conhecer o programa cheguei a fazer sessões com um fonoaudiólogo particular, mas o bom desse programa da prefeitura é que os profissionais daqui estão inseridos dentro da nossa realidade e trabalham com pessoas com as mesmas dificuldades. É um trabalho terapêutico que se torna mais eficaz do que com outras pessoas que não tem noção do nosso dia a dia.
A fonoaudióloga Julianna Ferrer de Oliveira destaca que os profissionais que utilizam sua voz como instrumento de trabalho devem tomar certos cuidados no dia a dia, pois a saúde vocal é essencial para uma longa carreira profissional.
- O alto índice de afastamento médico de professores se dá muitas vezes por causa de hábitos ruins, como má alimentação e fumo, e esses afastamentos acarretavam um aumento das despesas para os cofres públicos, já que havia a necessidade de contratação de um novo docente para substituir o licenciado. A partir da implantação do programa, esse quadro mudou significativamente e, hoje, os professores já procuram o treinamento para prevenção, pois já querem se tratar antes mesmo de qualquer diagnóstico. Ficamos muito felizes com esses resultados, pois um professor saudável trabalha muito mais feliz.
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