Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Mulheres da Paz entram em ação e transformam as comunidades cariocas

Projeto de prevenção à violência, desenvolvido em sete regiões do Rio, é referência entre os moradores


22/05/2012 18:41:00  » Autor: Texto: Anna Beatriz Cunha / Fotos: Eliane Carvalho


Mulheres que lutam por um mundo melhor, líderes nas comunidades onde moram e algumas marcadas pela violência saem de suas rotinas para identificar situações de vulnerabilidade social para promover a paz onde vivem. Essa é a vida e o objetivo de 1.250 beneficiárias do projeto Mulheres da Paz, desenvolvido em sete comunidades cariocas (Acari, Cidade de Deus, Penha, Santa Cruz/Reta João XXIII, Santa Marta, Senador Camará e Vila Kennedy), pela Secretaria Municipal de Assistência Social, em parceria com o Governo Federal, dentro das ações do Programa Nacional de Segurança Pública.

Na Cidade de Deus, a primeira comunidade pacificada do Rio, quando as Mulheres da Paz entram em campo parecem celebridades. Por onde passam são reconhecidas pelos moradores e retribuem a atenção com beijinhos, abraços e uma pausa para conversa.



De acordo com a diretora da Estação da Cidadania Cidade de Deus, Telma Cristina Ramiro, o projeto é referência para a solução dos mais diversos casos:

- O sucesso é tanto que as mulheres são abordadas nas ruas pelos moradores. Sem contar os que vêm direto para o polo procurar ajuda. O projeto está sendo muito bem aceito pela comunidade. Cada problema, cada solução, é uma vitória diária.

Um dos locais mais violentos do Rio, a comunidade, cenário de filme, conta com o projeto desde janeiro e o reforço de 170 mulheres integrantes deste plano de combate às mazelas da favela. Elas são divididas em 14 subterritórios e têm como meta mensal a realização de 12 visitas domiciliares e cinco encaminhamentos (após diagnosticado o problema, são enviados para a coordenação).

Segundo Nilda, antes das mulheres entrarem em ação há um processo de capacitação que dura dois meses:

- Elas aprendem a como falar com as pessoas, têm noções de como mediar conflitos, conhecem a Lei Maria da Penha e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na luta contra as drogas



A Mulher da Paz Cecília Conceição de Araújo, de 52 anos, e moradora da Cidade de Deus há 47, é só elogios ao projeto. Mãe de seis filhos e com uma vida marcada pela luta diária de tentar livrar sua menina de 22 anos das drogas, ela diz que foi o problema da filha que a fez entrar para o projeto.

- Vou ajudá-la a sair dessa e vou ajudar os outros que estão juntos. Não adianta as mães de outros usuários de crack saberem que tenho uma filha viciada e que procuro tratar o filho delas se eu não trato a minha. Não faria sentido isso. É por isso que eu faço de tudo para tirá-la dessa vida. Esse projeto me tirou de um buraco que eu estava caindo, ele levantou a minha autoestima.

As histórias encontradas em cada casa na Cidade de Deus comovem até mesmo quem já sentiu na pele algum tipo de violência, injustiça e preconceito. Para Cecília, um dos casos mais marcantes nas visitas que fez até agora nas casas dos moradores da Cidade de Deus foi o de uma mulher com seis filhos, portadora do vírus HIV e com hanseníase.

- Enquanto fazia a entrevista, percebi o quanto ela era excluída. Ninguém nunca tinha entrado em sua casa. Depois, soube que ela também nunca havia sido beijada e abraçada, porque as pessoas tinham nojo. Enviei os problemas dela para o polo e a equipe encaminhou para a rede de saúde. Hoje, sempre que posso vou na casa dela.

Uma nova vida



Egressa do sistema penitenciário, Cláudia Cristina Moraes, 43 anos, nascida e criada na comunidade da Zona Oeste, também integra o Mulheres da Paz da comunidade. Mãe de três filhos, um deles assassinado por envolvimento com o tráfico de drogas, Cláudia dá uma lição ao dizer que tenta tirar proveito do sofrimento e da dor.

- As coisas ruins eu deixo de lado e absorvo o que há de melhor. Eu sabia que em vez de me revoltar eu podia e devia ajudar ao próximo. É isso o que faço no projeto, faço o que gosto: oriento e ajudo – conta Cláudia, acrescentando o significado de ser Mulher da Paz.

- É ter amor porque sem ele você não pode ser, ter a certeza de um mundo melhor, de que vamos olhar para trás e ver o que fizemos e o que ajudamos a fazer. As Mulheres da Paz são guerreiras e vencedoras. São as mulheres que olham para o futuro.

Uma abordagem que marcou muito a vivência de Cláudia no projeto foi de uma moça de 18 anos, que estava usando crack nas ruas da comunidade e tinha muito medo de ser descoberta pela mãe.

- Me aproximei dela, uma menina linda e contei a minha história. Passei confiança e ela me pediu ajuda para se livrar das drogas. No mesmo momento ela tirou as pedras de crack de dentro da blusa e jogou fora. Isso me fez muito bem em saber que apenas com palavras ela se livrou das drogas. Hoje, posso dizer que ela está vencendo a luta e já não tem mais os dedos amarelados, pegou corpo e está muito bem.

O projeto




Todas as participantes do Mulheres da Paz têm idade acima dos 18 anos, renda familiar até dois salários mínimos, pertencem às comunidades de intervenção do projeto e disponibilizam 12 horas semanais para participar das atividades previstas. As Mulheres da Paz receberam um kit de identificação (composto por blusas, bonés e bolsa) e uma bolsa mensal no valor de R$ 190.
 


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