Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Prefeitura e Sebrae lançam projeto para preservar negócios tradicionais

16/04/2015 15:04:00  » Autor: Flávia David / Fotos: Ricardo Cassiano


A Prefeitura do Rio, através do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), e o Sebrae/RJ (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado do Rio de Janeiro) lançaram, na manhã desta quinta-feira (16/04), no Centro Carioca de Design (Praça Tiradentes), o programa "Negócios de Valor". Com o slogan "Grandes histórias, novas ideias", a iniciativa foi apresentada durante a abertura de um seminário que, ao longo do dia, discutirá o conceito de "negócio tradicional" a partir de casos de sucesso de empresas que utilizam o conceito em suas estratégias de mercado. O programa prevê, a partir da expertise do Sebrae/RJ, o fortalecimento das atividades econômicas tradicionais e notáveis do Rio de Janeiro para ajudar a preservar suas identidades e torná-las competitivas, lucrativas e sintonizadas com as novas exigências e oportunidades do mercado. O foco serão os imóveis existentes nos bairros do Centro, Gamboa e Santo Cristo e no entorno da Praça da Cruz Vermelha, que incluem cinco áreas de proteção do ambiente cultural (APACs).

 

Atualmente, a Prefeitura do Rio tem 47 imóveis considerados como patrimônio imaterial, na categoria atividade econômica tradicional e notável. Destes, 29 ficam localizados no Centro e na Região Portuária. Para enfrentar os novos desafios, o Sebrae/RJ e o IRPH fizeram um levantamento de 43 novos negócios tradicionais das regiões do Centro e do Porto que poderão participar do programa "Negócios de Valor". Com a iniciativa, que é inédita, os empresários contarão com a orientação do Sebrae/RJ e do próprio instituto a partir de consultorias especializadas sobre finanças, marca, layout e marketing.

 

 

- Nossa cidade é rica em atividades econômicas de longa duração. São negócios com mais de 100 anos na mesma família, ou que mudam de dono e mantém a mesma qualidade de serviço. Para os cariocas, essas atividades funcionam como uma referência para a história de cada um. Os espaços comerciais também são importantes para a identidade urbana. Após uma pesquisa aprimorada, percebemos a necessidade de falar sobre negócios, de orientar os empresários. Queremos, ao mesmo tempo, falar da dimensão cultural e da necessidade de aliar a dimensão econômica a isso com o objetivo de manter o negócio vivo. Uma boa gestão é decisiva para dar sustentabilidade ao negócio e, consequentemente ao patrimônio. Para ele continuar existindo, ele precisa funcionar bem. Costumo dizer que história é bom para os lucros, os lucros são bons para a manutenção dessas atividades, e que atividades bem mantidas são boas para o patrimônio e para os cariocas - afirmou o presidente do IRPH, Washington Fajardo.

 

Desde 2013, o Sebrae/RJ tem identificado que negócios tradicionais e centenários careciam  de abordagens específicas para o seu desenvolvimento, como chapelarias, botequins, lojas de instrumentos musicais e pequenas oficinas gráficas da Região Portuária. Para o diretor-superintendente da entidade, Cezar Vasquez, é realmente necessário que os comerciantes acompanhem a transformação pela qual a cidade passa no momento:

 

- Há tempos vínhamos discutindo a relação entre dinâmica imobiliária e a sustentabilidade de negócio. A prefeitura também já vinha pensando na questão da dinâmica dos bairros, que com mudança do mercado imobiliário, sofreram com a saída de alguns estabelecimentos. Estávamos, portanto, diante de uma preocupação comum. Unimos o nosso trabalho de campo à preocupação de planejamento do IRPH e formalizamos essa parceria -  disse Vasquez.

 

Após os estudos e consultorias, o IRPH vai chancelar novos negócios tradicionais que irão se unir aos já registrados como bem imaterial. Os novos negócios farão parte de um novo Circuito do patrimônio Cultural Carioca. Placas azuis indicarão a importância histórica de cada um dos estabelecimentos. Atualmente, cerca de 190 placas já estão instaladas em toda a cidade, divididas em 10 circuitos: Liberdade, Art Déco, dos Cinemas, do Trem, dos Botequins, das Águas, do Samba, da Bossa Nova, da Praça Tiradentes e do Choro. Além de fazer parte do Circuito dos Negócios Tradicionais, os estabelecimentos serão destacados nos livros e roteiros oficiais da cidade de forma gratuita.

 

A previsão é de que sejam selecionados 30 empreendimentos, localizados exclusivamente em cinco Áreas de Proteção do Ambiente Cultural/APACs (Corredor Cultural, SAGAS, Cruz Vermelha, Entorno do Mosteiro de São Bento, Entorno do Ministério da Fazenda). A proposta é que, em 2016, o programa "Negócios de Valor" seja estendido para outras regiões da cidade.

 

Na manhã desta quinta-feira, o painel "Design e Banding no fortalecimento de marcas tradicionais" discutiu a importância do branding e da reformulação dos espaços como suporte e fortalecimento da identidade de empreendimentos tradicionais. Participaram Ana Couto (CEO Ana Couto Branding), que fundou a empresa em 1993, sendo pioneira no Brasil sobre o papel da marca nos resultados das empresas, Bel Lobo, que desde 1990 é dona da Be.Bo, empresa consagrada de remodelação de espaços comerciais.

 

 

Para a CEO, é a metodologia de gerenciamento de uma marca que define o destino de um estabelecimento. Para ilustrar sua orientação, ela exibiu um vídeo cujo tema (Como ser relevante) estimulou os empresários presentes a buscar incrementos para o seu negócio.

 

- Todo negócio um dia foi pequeno. Muitos floresceram e outros muitos não foram para frente. As pessoas precisam entender que negócio, marca e comunicação devem estar sempre atrelados. Uma coisa trabalha diretamente para a outra. Sem isso, o negócio não prospera - afirmou.

 

Ao seu lado, a empresária Bel Lobo endossou suas palavras e completou que é preciso ficar nos dias atuais sem esquecer o ar tradicional que inspirou comerciantes e clientes.

 

Para os empresários, a iniciativa conjunta da Prefeitura do Rio e do Sebrae/RJ vai possibilitar a modernização de seus estabelecimentos, sem que estes percam sua característica original, e uma qualidade no atendimento. Proprietária, ao lado de seu marido, da Gráfica Marly - que em janeiro deste ano passou a integrar a relação de negócios tradicionais e notáveis da cidade -, Cirlea Tavares, de 42 anos, conta que o negócio está sob o comando da 3ª geração da família e que seu filho, de 16 anos, já mostrou interesse em cursar Administração para cuidar do estabelecimento da família. Pra ela, fazer parte deste programa é uma honra que permitirá à família dar um "up" ainda maior ao negócio, que funciona na Zona portuária da cidade.

 

- A gráfica fez o seu nome em cima de um trabalho artesanal, que mantém até hoje. Além disso, ela ocupa uma região que está sendo totalmente reformulada, o que aumentará ainda mais o seu encanto. Até o momento, confesso que não tinha essa visão de sustentabilidade, mas o Sebrae nos permitirá adequar as nossas atividades à realidade de hoje. Se a gente não se recicla, a coisa acaba. São informações que vão melhorar, ainda mais, o nosso serviço - falou a comerciante.

 

A Gráfica Marly foi inaugurada em 1946, na Rua do Livramento. Com 69 anos de existência, o estabelecimento é reconhecido por suas impressões em tipográfica, relevo francês, relevo americano e confecção de envelopes.

 

Agora na parte da tarde, dois painéis discutem propostas de reconhecimento de empreendimentos tradicionais, com debates sobre o conceito de "empreendimento tradicional" e seus desafios e conquistas ao longo dos últimos 80 anos. Uma discussão sobre as especificidades desses tipos de empreendimento reúne os seguintes palestrantes: Antônio Edmilson (PUC-Rio), que trabalhou ativamente no processo de reconhecimento de bares e botequins tradicionais da cidade; Nina Pinheiro Bitar (PUC-Rio), autora do livro "Baianas de Acarajé: comida e patrimônio no Rio de Janeiro"; Nelson Henrique Martins, sócio da Randal (a empresa fundada em 1951 é especializada na fabricação artesanal de medalhas, distintivos e condecorações oficiais); e Armando Gomes Filho, sócio do Bar Urca (fundado em 1972 está na 3ª geração de gestores e preservam a identidade do bar).

 

Os negócios tradicionais

 

São considerados negócios tradicionais empresas que possuem uma marca ou reputação reconhecida; empresas familiares que preservam o negócio entre gerações; comércios que preservam técnicas e processos de produção artesanais ou tradicionais, e que sejam reconhecidos símbolos ou como parte da história da cidade do Rio de Janeiro.

 

A inspiração para a parceria foi a criação do Sítio Cultural da Rua da Carioca, em junho de 2013. Por decreto, uma nova categoria de patrimônio imaterial foi criada: a atividade econômica tradicional e notável. Com as definições, foi assegurada a preservação de nove negócios tradicionais da Rua da Carioca: Bar Luiz, Vesúvio, Ponto Masculino, Padaria e Confeitaria Nova Carioca, Mariu ́s Sport, Mala de Ouro, Irmãos Castro e Casa Nova Zurita.

 

 

Além destes, a categoria também contempla a relação de Bares e Botequins tradicionais da cidade, que destaca 26 estabelecimentos comerciais, entre eles, Adonis, Bar Lagoa, Cervantes, Adega Pérola, Casa Paladino e Nova Capela. Em janeiro deste ano, o IRPH apontou outros 13 imóveis para compor a relação. Imóveis como a Chapelaria Esmeralda, a Leiteria Mineira e Bandolim de Ouro, além da própria Gráfica Marly.




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