Fundação Parques e Jardins - FPJ
Seminário vem brincar! A brincadeira nos espaços públicos

01/12/2016 21:39:00


A Fundação Parques e Jardins reuniu na última quarta-feira (30) especialistas e gestores públicos para debater sobre a ocupação e o futuro de brinquedos e equipamentos de lazer na cidade, usados principalmente pelas crianças. Arquitetos, designers, empresas, urbanistas e educadores falaram sobre temas relacionados ao assunto para uma plateia de aproximadamente 80 pessoas no auditório Darcy Ribeiro na Biblioteca Parque, no centro do Rio.

 

Na abertura, o presidente da Fundação Parques e Jardins, Everton Gomes, lembrou dos parceiros que tornaram possível também a realização do evento, além de falar sobre a importância das áreas verdes da cidade.

 

"O Rio de Janeiro tem 4 mil áreas verdes, entre elas mais de 2 mil praças repletas de histórias. Nos últimos anos, com a popularização da internet, existe uma enorme preocupação com as atividades infantis, o sedentarismo das crianças e a qualidade dos espaços públicos. Hoje as crianças ainda brincam em brinquedos que os avós brincaram. Temos muito a discutir e trabalhar para que nossos espaços sejam cada vez mais atrativos para crianças e idosos. Independentemente de a gestão terminar, vamos cuidar do bem estar da população até o fim", disse o presidente da FPJ na abertura, ao apresentar o presidente do IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade) e diretor do Centro Carioca de Design, Washington Fajardo e Ana Luiza de Toledo Piza, subsecretária de Relacionamento com o Cidadão da Secretaria Municipal de Conservação, a Seconserva.

 

Silvia Melo, arquiteta e urbanista da área de projetos da FPJ, e Maria Josefa Restum, também arquiteta e urbanista, assessora da diretoria de projetos do órgão, abriram o seminário com a abordagem sobre a atuação dos órgãos municipais nas praças e em brinquedos.

 

"Sempre é um tema instigante falar de espaços públicos. Também é uma honra falar em um auditório que leva o nome de Darcy Ribeiro", afirmou Josefa.

 

Silvia lembrou que a questão da acessibilidade também é uma constante no trabalho sobre os parques com brinquedos.

 

"É uma demanda em crescimento. Temos de ter um olhar para quem tem a mobilidade reduzida para que acessem os espaços de lazer. Passamos a fazer esses projetos, inclusive com ajuda das mães, que apontam detalhes para o desenho final", explicou Silvia.

 

A representante da Seconserva contou sobre como começou a se envolver no tema antes mesmo de fazer parte do órgão da Prefeitura do Rio.

 

"Eu era uma mãe que frequentava o Baixo Bebê, na Lagoa, e ficava pensando porque tinham tão poucos brinquedos. Tenho orgulho de os primeiros amigos de minha filha terem sido feitos na pracinha. Até que conheci a Seconserva. Saí de anos de trabalho na iniciativa privada e fui para o órgão", explicou Ana Luiza, que levantou a questão da participação dos moradores para o desenvolvimento de áreas verdes e parques. Ela deu o exemplo da revitalização da praça Saes Peña, em 2013, que foi feita em parceria com a associação de comerciantes e moradores.

 

"Conseguimos que uma farmácia desse os brinquedos. Em Nova York, 90% da administração do Central Park é da iniciativa privada. Temos que colocar a mão na massa e fazer juntos", afirmou a subsecretária.

 

Andréa Cardoso, diretora de Planejamento e Projetos da FPJ e uma das organizadoras do seminário, reiterou a questão da participação da população na conservação das áreas.

 

"Nada é mais importante que a sensação de pertencimento. É cultural de nossa cidade achar que o espaço público não é de ninguém. Há uma dificuldade de encarar o espaço público como meu", afirmou a diretora. 

 

Da Comlurb, participou o gerente da diretoria de Áreas Verdes e fabricação de equipamentos de polietileno, Jorge Fernandes, no debate sobre projetos de brinquedos com uso material reciclável.

 

"As pessoas perguntam: por que a Comlurb tem uma fábrica? Para ter mais velocidade em ter equipamentos. São mais de 12 mil itens por mês", disse Jorge, que ainda ressaltou que a empresa pública faz brinquedos para praças com garrafas plásticas recicladas. "(Em cinco anos) 9 milhões de toneladas de garrafas de plástico deixaram de ir para a baía de Guanabara", afirmou o gerente.

 

Sobre espaços e reflexões para brincadeiras na primeira infância falou a professora Katia de Souza e Almeida Bizzo Schaefer, doutora em Educação pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em educação infantil. Ela falou sobre a importância da brincadeira na infância e como está inserido no desenvolvimento físico e intelectual dos pequenos.

 

Na parte da tarde do seminário, representantes de empresas, nacionais e estrangeiras, apresentaram seus projetos para inovação dos brinquedos em parquinhos infantis. Fanny Crouzet, arquiteta e urbanista formada pela Ecole Nationale Supérieur Paris la Villette, foi como representante da empresa francesa Oikotie. Ela mostrou os coloridos projetos da empresa, que tem instalações no Parque de Madureira e em Saquarema. "Os playgrounds devem ser para todas as crianças, sem distinção, com mobilidade e segurança", explicou sobre os projetos da empresa.

 

"As estatísticas no Rio mostram que 20% da população é formada por crianças e são 500 crianças para cada parque da cidade. As crianças que brincam tornam-se adultos mais propensos a entrar na universidade e de não se envolver com drogas. Serão adultos que terão filhos que gostarão de brincar", acrescentou Fanny em sua apresentação.

 

A empresa chilena Urbanplay enviou o engenheiro Marcos Ortiz para contar sua experiência em construir brinquedos com bases mais elevadas.  Ele explicou que a situação no Chile é similar à do Rio de Janeiro. "Precisamos aumentar o número de áreas verdes por habitantes", afirmou o engenheiro, que mostrou, entre outros exemplos de sua empresa, parques instalados em praias proibidas para o banho, outra situação similar à carioca.

 

Mestranda no programa de pós-graduação em Arquitetura Paisagística da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ) e integrante do Grupo Ambiente Educação (GAE) Flora Fernandez falou sobre o ato de brincar como conceito de transformação da paisagem urbana.

 

"Quando as cidades são amigáveis com as crianças, elas são mais amáveis com todos. Se a cidade for para a vivência da criança é bom para a cidade e para a criança", disse ao relatar experiências que teve na Europa sobre esse conceito.

 

Roni Hirsch, diretor criativo e fundador do Erê Lab, empresa de criação e desenvolvimento de objetos de brincar, interagir e participar, de São Paulo, falou sobre design lúdico na criação do território da criança na cidade. A empresa tem projetos no Rio em quatro Vilas Olímpicas em bairros de baixa renda da cidade.

 

"É só no espaço público que as crianças saem de suas bolhas e se relacionam com outras crianças de diferentes credos, culturas, situações. A cada dólar investido no brincar das crianças se economiza 8 dólares com gastos em saúde", afirmou o diretor, que mostrou os parques da empresa, desenvolvidos com madeira e design inspirado em formas da natureza e das cidades.

 

As cientistas sociais Mariana Koury e Rachel Ribeiro apresentaram a

Ação Manguinhos e seus Caminhos na parte onde o debate abordou a questão de ouvir as crianças. O projeto da dupla identifica em Manguinhos, na zona norte do Rio, os problemas e busca soluções para o lazer das crianças na comunidade.

 

"As crianças não são o futuro, elas são o presente e têm que participar agora do que é melhor para elas. Quando se cria um espaço seguro para elas, a população participa, fortalece a cidadania e vai proteger aquele espaço", disse Mariana, ao mostrar desenhos das crianças de Manguinhos sobre o que elas querem para o bairro.

 

Sobre brinquedos infantis como inclusão em espaços públicos gestores de um projeto de desenvolvimento de brinquedos acessíveis da Aço Forte, Eronildo da Costa e Dimitri Huhn Rebello falaram no encontro sobre o desafio da empresa em criar peças que possam ser utilizadas, com segurança, por crianças com deficiência e dificuldade de locomoção.

 

A programação do seminário terminou com a emocionante participação da advogada Consuelo Machado, mestre em Direito na área de Justiça e Cidadania, membro da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Instituto Brasileiro dos Direitos de Família e da Comissão OAB vai à Escola. Apesar de ser atuante em diversos organismos e do título acadêmico, ela se destaca mesmo é como mãe de um menino de 12 anos, que precisa da cadeira de rodas para se locomover. Ela mostrou exemplos de como pracinhas poderiam ser mais acessíveis para crianças como seu filho e também como brinquedos poderiam ser mais inclusivos.

 

"Um balanço que tivesse um encosto, por exemplo, meu filho já conseguiria brincar. Mas não tem. Cabe a nós, Estado e indivíduos, garantir que eles se desenvolvam de forma plena e é fundamental o espaço público nesse desenvolvimento. Cultivar o espaço público é se colocar no lugar do outro", disse Consuelo.

 

O seminário ainda contou com representantes da sociedade, como Flávio Lana, da associação de amigos do Parque Ary Barroso, na Penha, e José Fernandes Silva, da Associação de Moradores Luís Carlos Prestes, do Parque Orlando Leite, em Cascadura, que fizeram perguntas e debateram com os convidados.


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