Fundação Parques e Jardins - FPJ
Campo de Santana tem um exemplar da raríssima “árvore do imperador”

26/02/2016 13:54:00


Armando Stilhano; Benjamim Matheus (funcionário do Campo de Santana) e Aurélio Rocha (gestor de Revitalização do Campo de Santana)

 

 

Maior área verde do Centro do Rio de Janeiro, o Campo de Santana – fundado em 1880 por Dom Pedro II -, tem belas e centenárias árvores em seus jardins. Isso todo mundo sabe. Mas, o que pouca gente sabe é que entre elas existe uma árvore já quase extinta. Trata-se da Chrysophyllum Imperiale, mais conhecida como Guapeba ou Árvore do Imperador.

            É uma espécie da região de Mata Atlântica, de grande porte, madeira dura e frutos saborosos. Era muito apreciada pelo imperador D. Pedro I e também por seu filho, D. Pedro II, um apaixonado por Botânica e que por isso mesmo, chegou a enviar mudas dessa espécie para vários jardins botânicos do mundo, como por exemplo, o Jardim Botânico de Sidney, na Austrália, onde é chamada de Royal Tree.

            Existem poucos exemplares dela no Brasil e, atualmente, a Chrysophyllum Imperiale está na chamada Red List, a Lista Vermelha de árvores ameaçadas de extinção.

            Especula-se que por ser conhecida como árvore do imperador, com o advento da República, ela tenha sido deliberadamente destruída pelos republicanos que não queriam nada que fizesse alusão ao Império. Outro fato que com certeza ajudou a torná-la rara é que por ter uma madeira dura, bem densa, produzia um ótimo carvão, ou seja, foi muito derrubada para essa finalidade. Soma-se a isso o fato de essa árvore ter uma germinação muito difícil.

            Segundo o historiador Maurício Ferreira, diretor do Museu Imperial, ele nunca ouviu nem leu relatos oficiais sobre essa versão de que os republicanos teriam mandado acabar propositalmente com a árvore do imperador, mas não se surpreende com a possibilidade dessa hipótese: "Não sei e não posso afirmar se houve de fato essa vontade de acabar com a árvore do imperador. O que posso afirmar é que houve sim uma disposição da República em acabar com a memória imperial. Só em Petrópolis, por exemplo, em menos de 20 dias de República, todos os logradouros públicos que faziam alusão a nomes da Monarquia foram trocados. Isso de fato aconteceu: sim, a República se empenhou de forma muito intensa em acabar com toda e qualquer referência à memória do Império. Agora, se esse empenho, se esse esforço se estendeu também aos assuntos ligados à Botânica, não sei dizer."

            Para o botânico Marcus Nadruz, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a raridade da árvore do imperador se explica por sua singular característica, mesmo: "Há um número muito, muito pequeno de indivíduos dessa espécie conhecidos no Brasil. É  uma árvore rara, mesmo. Tanto que se encontra na Lista Vermelha de espécies ameaçadas. Mas, o que sabemos é que sua madeira era muito apreciada. Além disso, ela é uma árvore difícil de dar sementes", explica ele.

            Seja qual for o motivo, o fato é que há poucos exemplares dela no Brasil e no mundo. No Rio de Janeiro, uma das mais antigas encontra-se em Cachoeira de Macacu e, segundo especialistas, tem mais de 300 anos. No Campo de Santana existe outra antiga, com cerca de 150 anos. Nos jardins do Museu Imperial, em Petrópolis, há outra. Mas, a do Museu Imperial é uma árvore ainda bem jovem que foi plantada em setembro de 2013. Na época, o programa Um Pé de Quê?, apresentado pela atriz Regina Casé, contou a história da árvore do imperador.

Campo de Santana e sua árvore do imperador

            Em 1858, a convite de Dom Pedro II, chegou ao Rio de Janeiro o botânico francês, Auguste François Glaziou, que foi coordenar a diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial. É de Galziou o paisagismo de muitos parques do Rio, como por exemplo, o da Quinta da Boa Vista, o do Passeio Público e do Campo de Santana. Glaziou costumava colocar mudas da árvore do imperador em todos os seus projetos. A do Campo de Santana encontra-se até hoje lá.

            Engenheiro químico por formação, mas apaixonado por Botânica, o paulista Armando Stilhano, fez questão de ir ao Campo de Santana para conhecer o exemplar da árvore do imperador que existe lá: "A trabalho, vou muito ao Rio, mas nunca tinha ido ao Campo de Santana. Quando soube que existia um exemplar vivo da árvore do imperador, fiquei maluco! Posso dizer que estou emocionado. Muito mesmo. Essa árvore é linda", disse ele em dezembro, quando esteve no Campo de Santana.

            Para o presidente da Fundação Parques e Jardins, Wellington Ribeiro, é uma felicidade ter em pleno Campo de Santana uma árvore tão rara e tão cheia de história: "O Campo de Santana como um todo é um lugar que exala História. Aqui aconteceram muitos fatos históricos importantes. A árvore do imperador é um registro vivo desse passado. E, sabendo que ela é tão rara na natureza, aumenta mais a nossa responsabilidade em tê-la aqui. Queremos que mais e mais pessoas saibam de sua existência e a conheçam."


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