31/10/2016 12:08:00 » Autor: Juliana Romar / Fotos: Raphael Lima
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas salas de aula ainda é um dos grandes desafios da rede municipal de ensino do Rio. Mas, mesmo com algumas limitações, é possível oferecer boas alternativas para ampliar as potencialidades cognitivas dos estudantes. A utilização de materiais pedagógicos adaptados e adequados é uma das formas de inserir esses alunos nas classes, permitindo um melhor desenvolvimento e interação social.
A rede municipal possui dez escolas especiais, equipadas com materiais pedagógicos adaptados para o auxílio do aprendizado do aluno. A prefeitura atende a mais de 13 mil alunos com deficiência física, intelectual, sensorial, auditiva, visual, além dos que possuem transtornos globais do desenvolvimento e superdotação.
Para atender às peculiaridades dos alunos, os professores participam de oficinas de confecção dos materiais pedagógicos adaptados, utilizando recursos de baixo custo e/ou sucata, como plástico, imã, papelão forrado, velcro, material emborrachado, que, além de economizar, facilitam a adaptação às especificidades de cada aluno em sala de aula.
Esses materiais têm o objetivo de trabalhar a inclusão e a aprendizagem dos alunos de forma lúdica e criativa, como, por exemplo, o alfabeto e o mapa do Brasil em braile, o caderno de pauta ampliada, o jogo da memória tátil, a árvore para contagem e cálculos matemáticos e o dominó de rótulos. Entre eles, o que faz mais sucesso é o livro transcrito em braile e com textura e objetos e personagens que fazem parte do contexto da história.
Além desses materiais, outros para uso pessoal e de higiene também são adaptados para garantir independência aos estudantes, como escovas de dente e colheres. Alguns recursos tecnológicos igualmente são adequados para facilitar o aprendizado, principalmente do aluno com paralisia cerebral. É o caso do teclado com letras ampliadas e teclas em cores contrastantes e em tamanhos grandes; e do acionador de pressão para ser acoplado ao mouse.
Para permitir um bom desenvolvimento, a Secretaria Municipal de Educação prioriza que esses alunos com deficiência estudem em classes regulares, sob acompanhamento nas atividades pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE), com atividades no contraturno em salas de Recursos Multifuncionais. Esse serviço tem a função de identificar e elaborar recursos de acessibilidade desses estudantes, eliminando barreiras e favorecendo o processo de inclusão.
A rede municipal oferece ainda ambiente linguístico em "Libras" para os alunos surdos e possui professores habilitados a trabalhar a educação bilíngue com os mesmos. Para melhor atendimento das crianças, instrutores e intérpretes atuam nas unidades escolares, em turmas comuns.
Responsável pela Sala de Recursos do Ciep José Pedro Varela, no Centro, a professora, fonoaudióloga e intérprete no município desde 1994, Sheila Noronha Santos, ensina Língua Portuguesa escrita para estudantes surdos, para que tenham autonomia em sala de aula.
- É um trabalho desafiador, mas é muito legal ver o crescimento e o desenvolvimento deles. Temos que incentivar, levantar a autoestima deles e abrir as portas para o mundo. Os materiais nós criamos de acordo com as necessidades de cada um e eu vou acompanhando as aulas, vejo o que a professora está dando e faço as adequações. E o resultado disso é que os surdos são os melhores alunos das turmas regulares. Tem alguns aqui que chegam sem língua nenhuma, sem saber se comunicar com o mundo, e poder participar de uma transformação na vida dessas pessoas é muito gratificante. Essa escola também abraça muito a causa e esse engajamento é muito legal. A inclusão ainda não está perfeita, mas estamos caminhando.
O Ciep José Pedro Varela foi a primeira escola bilíngue para deficientes auditivos da Prefeitura do Rio. Como um projeto-piloto do Instituto Helena Antipoff para incluir adultos, começou em 2002 com apenas quatro alunos. Atualmente, a unidade possui 16 surdos matriculados em sete turmas, além de receber ex-alunos que já se formaram e ainda continuam utilizando a Sala de Recursos e os materiais adaptados para estudarem para as aulas de cursos técnicos e da faculdade. Por ali, já passaram dezenas de jovens e adultos surdos que, hoje, são formados em Psicopedagogia, História, Cinema, Administração e Engenharia.
Exemplo de dedicação e empenho, a estudante do 6º ano do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Peja), Francisca Barbosa Moreno, 37 anos, está há cinco anos no Ciep e sai todo dia de Brás de Pina, onde mora com a mãe, para continuar os estudos que interrompeu ainda quando era jovem.
- Quero ter autonomia e ser independente e, para isso, preciso do ensino para ter um bom emprego. Meu sonho é comprar a minha casa própria e construir minha família. Gosto muito dessa escola, aqui é bom, tem profissionais bons, pessoas legais e educadas. Aqui, sou muito incentivada a estudar. E os materiais que são adequados para nós ajudam muito no dia a dia. Tudo o que estou fazendo é seguindo em frente. Perdi a audição, mas não a vida.
Todos os professores que atuam no AEE recebem formação continuada na área da Educação Especial para que possam atender às especificidades desses alunos. Além do AEE, a Rede Municipal conta com a atuação de Agentes de Apoio à Educação Especial, que recebem formação pelo Instituto Municipal Helena Antipoff (IHA) e oferecem suporte aos alunos quanto aos cuidados essenciais referentes à alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer. As escolas também contam com o apoio de estagiários e voluntários. Estes recebem formação continuada pedagógica na área da Educação Especial.
Pela nova política, a Sala de Recursos ocupa o lugar central no processo de inclusão. Neste novo modelo, são disponibilizados professores itinerantes, estagiários oriundos de universidades conveniadas com a SME, voluntários intérpretes e instrutores de Libras e Agentes de Apoio à Educação Especial.
Todos estes profissionais, além de Intérpretes e Instrutores de Libras, atuam como rede de apoio aos alunos surdos. A Rede Municipal do Rio também conta com 23 escolas Polo Bilíngue nas quais todos os alunos e professores utilizam a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Os alunos com deficiência têm direito a transporte de casa até às unidades, de forma a facilitar a rotina das famílias e evitar que o estudante se distancie das atividades escolares.
Além disso, em 2014, a Secretaria Municiapal de Educação garantiu, em parceria com a UFF, a capacitação de cerca de 200 professores e coordenadores pedagógicos de todas as 11 CREs, com o objetivo de identificar alunos com Altas Habilidades.
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