05/08/2016 00:13:00 » Autor: Ricardo Albuquerque # Fotos: Paula Johas
A Tocha Olímpica chegou a Madureira em ritmo de samba. Às 20h15 desta quinta-feira (04/08), o maior simbolo dos Jogos Olímpicos entrou no Palácio Rio 450, sede do governo municipal na Zona Norte, sob a batuta do Mestre Monarco, 83 anos. Com muita ginga, ele passou a chama olímpica para Tia Surica, 75, ao som de "Foi um rio que passou em minha vida", música consagrada de Paulinho da Viola. O revezamento da Tocha Olímpica completou 340 quilômetros na cidade.
— O coração está palpitando, meu amigo, mas estou muito feliz. É uma sensação quase igual a que sinto na Sapucaí quando desfilo pela minha Portela, porém com sabor diferente. Quem sabe a tocha pode virar tema de alguma música que a gente venha a fazer, mas isso é tema para roda de samba. Dá licença, que já cumpri minha obrigação e vou sambar — disse Hildmar Diniz, o Mestre Monarco.
Sem perder o compasso, Tia Surica seguiu sozinha para dar vida ao segundo marco olímpico da cidade — estrutura revestida de pólvora que ao ser tocada pelo fogo forma o símbolo dos Jogos. Na quarta-feira, o primeiro foi aceso na Cinelândia. Parque Madureira, Copacabana e Palácio da Cidade completam os cinco pontos escolhidos para eternizar a memória do maior evento esportivo do planeta.
— Não tenho palavras para descrever a minha emoção. Nunca imaginei que pudesse participar de um momento histórico como esse no auge dos meus 75 anos. Fui realmente pega de surpresa. Gostaria muito de parabenizar os atletas brasileiros que vão se esforçar muito para conseguir uma medalha — declarou Iranette Ferreira Barcellos, a Tia Surica, conhecida carinhosamente como a Dama do Palácio RIo 450.
Centenas de pessoas fizeram a festa quando o comboio que trouxe a Tocha Olímpica chegou ao Palácio Rio 450, na Rua Carolina Machado, em Madureira. A escolta formada por policiais rodoviários federais, policiais militares e outros batedores abriu caminho para o condutor que entregou o símbolo olímpico ao Mestre Monarco. O sambista entrou no palácio com muita ginga e samba no pé para delírio do público que acompanhou o evento.
— Viu como é que samba e tocha olímpica combina? O samba é uma manifestação popular mais que consagrada e a tocha precisa de povo para dar vida àquele fogo tão bonito e colorido. Sem as pessoas nas ruas, a tocha não teria o mesmo valor — descreveu a porta-bandeira da Portela, Danielle Nascimento.
Formada pelo grupo que toca na Feirinha das Yabás, em Oswaldo Cruz, a roda de samba caprichou no repertório que enalteceu o samba e a Portela. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Alex Marcelino e Danielle Nascimento, se juntaram aos baluartes Tia Surica e Monarco e dançaram ao som da bateria.
— Sou amiga da Surica por isso não recusei o convite. Se pudesse gostaria de ter carregado a tocha também, mas o importante é que Madureira entrou para o mapa da história. Agora, samba e Olimpíada formam um conjunto de peso — comentou Rosangela Sena de Souza, 63, na companhia dos netos Rafael, 11, e Guilherme, 8.
A expectativa de ver a Tocha Olímpica atraiu muitas pessoas. Acompanhada da mãe, Bianca Alves, a pequena Isabela, de quatro anos, chegou com a réplica na mão e medalha de ouro pendurada no pescoço. O material produzido na escola aguçou a curiosidade da menina, que convenceu sua mãe de assistir a chegada na porta do palácio.
— Ela fez questão de vir até aqui e como moramos a cinco minutos a pé do palácio não foi difícil ela me convencer, mas acho o simbolismo desse momento muito legal. Os Jogos representam a união entre os povos e, embora o mundo pareça estar de cabeça pra baixo, as crianças não tem nada a ver com isso. Vejo a tocha e tudo mais como uma chance de unirmos nossa cidade.
A pressão infantil para ver a tocha também levou o casal Robson Martins, 46, e Sonia Macedo, 47, até Madureira. Moradores de Rocha Miranda, eles atenderam ao pedido do filho Ramon, 11, que acompanha todos os detalhes sobre as Olimpíadas pela internet e pela televisão.
— Como eles disseram que viriam a Madureira, não pensei duas vezes em sugerir para esperarmos a tocha passar. E, realmente, valeu a pena — explicou Ramon.
Quem não poderia perder a festa na porta do Palácio Rio 450 era o aposentado Miguel Macedo Nassif, 63, ex-proprietário do imóvel. Acompanhado da mulher, Lina Rosa, da filha Clarice, dos netos João e Jonas, do genro Vitor e da prima Angela Maria, Miguel morou no local quando ainda era solteiro, durante 22 anos.
— Para mim é o maior orgulho ver esse lugar tão valorizado. Torço muito por essa cidade e pelo Brasil nas Olimpíadas. Hoje sou um vizinho satisfeito da residência onde cresci e até namorei a minha mulher.
A Tocha Olímpica simboliza o elemento fogo em homenagem a deusa Hera, divindade que era reverenciada e temida pelos gregos na Antiguidade. A tradição de ser acesa meses antes dos Jogos Olímpicos — alusão à cidade de Olímpia onde aconteciam as competições — começou na edição de 1936, em Berlim, inspirado no antigo hábito dos gregos de acender a pira após a tocha percorrer alguns pontos da cidade de Olímpia.
Acesa em 21 de abril, a chama Olímpica viajou por alguns dias na Grécia até o embarque para o Brasil, onde chegou no dia 27 do mesmo mês, exatos 100 dias antes da abertura dos Jogos. No dia 3 de maio, em Brasília, começou o revezamento da Tocha Olímpica por todo o país. Um processo seletivo elegeu a maior parte dos 12 mil condutores que tiveram a oportunidade de levar a tocha por cerca de 200 metros (em méida) nas ruas de 300 cidades brasileiras. Na terça-feira (03/08), primeiro dia da Tocha no Rio de Janeiro, outras cenas emocionantes marcaram a passagem do símbolo olímpico.