Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Artistas realizam sonho de gravar primeira música no Estúdio Carioca

19/11/2015 10:11:00  » Autor: Juliana Romar / Fotos: Paula Johas


O trecho da canção "desistir do sonho é fugir da guerra" faz uma referência ao desejo de um jovem de 20 anos, morador do Lins de Vasconcelos, que desde os 12 anos sonha em viver da música. Filipe Vip, como é conhecido, é um dos 55 artistas que tiveram a oportunidade de gravar seu primeiro trabalho musical no Estúdio Carioca, iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, que recebe até dezembro artistas solos, bandas ou coletivos em início de carreira e que nunca fizeram uma gravação profissional.

 

O jovem, que migrou do funk para o rap, já trabalhou como panfletista, mas sua paixão pela música o fez batalhar em busca da carreira profissional. Com apresentações no currículo em centros culturais e rodas de rimas em praças, Filipe não via a hora de poder gravar seu "primeiro som", a música Antes de falar. E foi com a ajuda do amigo David MC que ele deu o primeiro passo nessa trajetória:

 

- Essa oportunidade que a prefeitura está oferecendo dá um ânimo a mais e está abrindo as portas para eu realizar meu sonho, que é viver da música, passar a minha ideia e conseguir sustentar minha família. Já estava correndo atrás há um tempão, só que estava difícil arrumar um lugar bom, com qualidade e bons equipamentos para gravar. Precisava de uma oportunidade dessa e estou muito feliz de ter gravado a minha primeira música. Achei o estúdio muito maneiro e foi muito legal trocar ideias com o produtor porque ele deu várias dicas. As horas que ficamos dentro do estúdio gravando foram muito válidas.

 

Instalado no Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca, o Estúdio Carioca conta com mão de obra qualificada, com equipamentos e técnicos do Estúdio Posto 9. Ele está equipado com microfones e amplificadores vintage, sistemas analógico e digital, baterias eletrônicas e controladores midi. As gravações são feitas em sistema Pro Tools com 32 canais e 16 pré-amplificadores de microfone classe A. O único instrumento oferecido pelo estúdio aos participantes é a bateria, disponível em três modelos acústicos.

 

Para participar, os artistas tiveram que se inscrever e a seleção foi feita através de sorteio público. Foram 381 projetos inscritos. Todos os gêneros musicais foram válidos, desde que o repertório fosse autoral. As gravações acontecem até a primeira quinzena de dezembro, em horários pré-agendados, sempre às terças-feiras, e cada participante tem direito a quatro horas de estúdio.

 

- Fizemos um projeto pensando nessa demanda que existe. Falta oportunidade para esses artistas que buscam um acabamento fino, um tratamento diferenciado para aquele produto que eles fazem. A cultura do Rio está proporcionando e abrindo oportunidade para que os músicos venham e a gente tenha esse movimento de efervescência do novo. Eesse projeto foi além das nossas expectativas. Fiquei muito surpreso com tudo o que ouvi até agora, pois são propostas bastante plurais – explicou o diretor artístico do Centro de Referência da Música Carioca, Rubens Kurin.

 

Diferentemente de Filipe Vip, que busca uma carreira artística, a Banda Espuma Negra não está atrás de fama. Os rapazes de Copacabana, formados em arquitetura, medicina e teatro, só queriam uma chance de divulgar o trabalho que vem sendo realizado desde 2011 nas redes sociais. Composta por Beto Sujeira (27 anos), Adriano Cachorrão (24) e Dalton, o Verme (28), a banda usa o rock como uma ferramenta, porém misturando um pouco de punk e agressividade com uma perspectiva de sátira e de fazer galhofa.

 

- Esse é um projeto muito legal que está disponibilizando uma gravação profissional. Não sei o que eu espero, a fama é consequência, só sei que é uma oportunidade muito boa e uma chance de mostrar mais o nosso trabalho. Infelizmente, ainda é muito difícil conseguir divulgar música aqui no Rio de Janeiro. O cenário alternativo, para o tipo de música que a gente faz, ainda é mais difícil. Para investir, tem que ter grana e isso é uma coisa que a gente ainda não tem - disse o guitarrista Dalton, o Verme.

 

A banda gravou a música Aprenda a ter medo do coelho macabro. A inspiração surgiu depois que o baixista Beto Sujeira viu um quadro de uma artista contemporânea carioca que falava de um pesadelo. A partir daí, o arquiteto deu o pontapé inicial ao que chama de "desafio":

 

- Essa oportunidade foi muito boa porque foi democrática, através de sorteio. Talvez se fosse seleção, dentro de muitos critérios, a gente jamais seria escolhido pelo nosso estilo musical. O desafio foi gravar bonito. O que me motivou a gravar aqui no Estúdio Carioca foi algo pessoal mesmo porque a gente sempre tocou e focou muito nas letras e histórias das sátiras, mas somos bons músicos sim, apesar de isso nunca ter transparecido nas gravações caseiras que a gente fez. Aqui, a gente se cobrou muito pra fazer uma música legal, um arranjo bonito, uma harmonia bacana. Acho que esse projeto deveria ter uma vez por ano porque ele pode catapultar algumas bandas, cada uma dentro do seu contexto, e revelar talentos.

 

No final das gravações, os artistas, bandas e grupos sairão com a música pronta para ser comercializada e divulgada profissionalmente. Eles receberão duas mídias em CD personalizado, com a logomarca do Estúdio Carioca. Além disso, a música gravada já sairá regularizada, dentro dos padrões necessários para divulgação e venda, com o ISRC (International Standard Recording Code) - um código fonográfico que funciona em qualquer lugar do mundo e serve para identificar a sua música -, permitindo assim que sejam recolhidos todos os direitos conexos.

 

- Estou surpreso porque veio gente do Rio de Janeiro inteiro e com trabalhos bons, já com todo o conceito pré-produzido e a gente teve que mexer muito pouco. Só recebemos gente com talento. Ainda não teve ninguém que estava com pouca experiência, o que ajudou muito. Por enquanto, o projeto está sensacional. Só estamos pegando autoral e músicas boas, bem compostas e bem estruturadas musicalmente. Todos até agora posso garantir que têm futuro. Já estamos gravando desde junho e o nível está bem legal. A maioria dos artistas tem idade entre 20 a 50 anos – comentou o produtor técnico proprietário do Estúdio Posto 9, Marcelo Rain. 


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