Cerca de 120 alunos de três escolas municipais participaram, na manhã desta quarta-feira (30/09), de uma experiência inédita: uma aula-passeio pelo Centro do Rio, para conhecer sua história e cultura. A iniciativa da Secretaria Municipal de Educação faz parte do projeto Mais Cidade, uma parceria com o Instituto de Geografia da Uerj que tem como viés a comemoração aos 450 anos da cidade. Com início em 18 de agosto e término nesta quarta-feira, o projeto contemplou 60 unidades do Programa Escolas do Amanhã  - que ficam em áreas conflagradas da cidade - e levou cerca de 2.400 alunos e 240 professores para o passeio.
 

- O objetivo desse projeto é o empoderamento e fortalecimento do protagonismo juvenil, incorporando as práticas de observação ao cotidiano do estudante. Quisemos mostrar para eles o quanto a cidade é importante, apresentando as belezas do Centro do Rio, o cenário histórico-cultural e as transformações na urbanização – explicou a gestora das Escolas do Amanhã, Sueli Gaspar.
 

Nesta quarta-feira, o passeio foi realizado por alunos do 6º ao 9º anos (11 a 14 anos) das escolas municipais Mendes Viana, de Colégio; Ministro Lafayette de Andrada, de Cordovil; e Fernando Barata Ribeiro, de Santíssimo. Cada unidade levou 40 alunos, que estavam acompanhados por quatro professores e um guia do Instituto de Geografia da Uerj. As 60 unidades participantes do projeto foram escolhidas pela Secretaria de Educação e a seleção dos alunos (do 3º ao 9º anos) ficou por conta de cada unidade.

Muito animados e empolgados, eles passaram todo o percurso tirando fotos e fazendo muitas perguntas. O roteiro incluiu visita à Santa Casa da Misericórdia, subida Ladeira da Misericórdia, Domínios da Justiça no Rio do Terceiro Milênio – Museu da Justiça, Centro Histórico Beira-Mar/Baía de Guanabara, Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Paço Imperial e de Isabel de Orleans e Bragança (com destaque para a janela da anunciação da assinatura da Lei Áurea), Praça XV, Chafariz do Mestre Valentim, Monumento de Osório, Arco do Telles, Travessa do Comércio/ sobrado de Aurora e Carmen Miranda, Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, Rua do Ouvidor, Centro Cultural Banco do Brasil e Igreja da Candelária.

Uma das alunas mais animadas, Larissa de Araújo Rezende, 14 anos, do 8º ano da E. M. Fernando Barata Ribeiro, tirou dezenas de "selfies" nos mais diversos pontos do passeio. Ela adorou a aula prática e afirmou que a iniciativa vai ajudar muito na hora de estudar:

- Esse passeio foi muito interessante porque ficar ouvindo só em sala de aula, às vezes, é um pouco chato. Aqui a gente está vendo o que está sendo falado, está passando nos lugares por onde pessoas importantes passaram. Gosto muito de reparar nos tetos dos lugares e fiquei muito encantada com tudo o que vi. Vir para a rua motiva ainda mais a gente a aprender.  

Enquanto Larissa gostou mais da Ladeira da Misericórdia, sua colega de turma Anna Beatriz Rosa da Cunha, 14 anos, não parou de vislumbrar a paisagem da Baía de Guanabara:

- Eu imaginava uma Praça XV muito diferente da que vi. Nunca tinha visto a Baía de Guanabara de perto e até fiquei com vontade de andar de barca. Achei tudo muito legal e vendo a arquitetura dos prédios tive a impressão de que eu estava em um cenário de novela.

Tanto contentamento e euforia dos alunos não surpreendeu a professora de Geografia das meninas, Marina Dias. De acordo com ela, a maioria dos alunos da E. M. Fernando Barata Ribeiro nunca saiu da Zona Oeste:

- Essa é uma oportunidade única que eles estão tendo de ampliar a visão de mundo, a noção de espaço e a identificação com a própria cidade. É a construção de identidade e de pertencimento. Nossa escola fica em Santíssimo e grande parte dos alunos mora ali mesmo, mas só passeia em Bangu e Campo Grande. Outro dia um aluno falou "tia, eu fui no relógio no alto da torre lá no Rio de Janeiro" (Central do Brasil). Pra eles, o Rio de Janeiro é um lugar muito distante e esse passeio está dando a chance deles conhecerem o desconhecido.

A estudante Ana Carolina Gomes da Silva, 13 anos, é uma das poucas exceções. A menina já conhecia o Centro do Rio, mas ficou impressionada com as transformações urbanísticas:

- Eu já vim aqui diversas vezes para ir ao médico e é muito legal ver a transformação, como era no passado e como está bem diferente agora. Já passei pelo Paço Imperial diversas vezes, mas nunca tive a oportunidade de entrar. Hoje pude fazer isso e fiquei sabendo que era a antiga Casa da Moeda. Adorei tudo lá dentro. Muitas coisas a gente já aprendeu na aula de História, mas agora vai ficar muito mais fácil para fazer a prova porque vou me lembrar do que vi aqui.

O projeto teve como objetivo apresentar aos alunos a Cidade do Rio de Janeiro sob a ótica de sua evolução espaço-temporal; desenvolver a observação e percepção do olhar e a interiorização da cidade; apoiar a apropriação dos espaços geográficos, históricos e culturais da cidade; fortalecer o protagonismo juvenil, através das práticas de análise e reflexão sobre a própria cidade em que vivem e atuam; e desenvolver o olhar crítico sobre a rua, o bairro, a cidade, o estado e a nação.

- Montamos um roteiro em que pudéssemos trazer esses jovens para o berço da cidade. Muitos nunca tiveram a oportunidade de vir aqui e talvez não tenham novamente. O interessante é a chance de mostrar para eles que a cidade é deles e que eles fazem parte dessa história e estão inseridos nela. Nesse quase um mês e meio em que estivemos juntos nos passeios, pude perceber o quanto foi importante para a formação deles como cidadãos – disse a coordenadora do projeto no âmbito do Instituto de Geografia da Uerj, Melissa Anjos.