A Guarda Municipal do Rio de Janeiro (GM-Rio) realizou nesta quinta-feira (30/07), data em que é celebrado o Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, uma ação de conscientização para passageiros e usuários dos aeroportos Santos Dumont e Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão). Este é o segundo ano consecutivo que a GM participada da Campanha Mundial Coração Azul, que busca a criação de medidas para acabar com o tráfico de pessoas.

Na ação, guardas municipais distribuem um kit com bótons e cartilhas informativas, e esclarecem sobre a prática criminosa e formas de denunciá-la. O tráfico de pessoas acontece quando alguém é retirado de seu ambiente - da cidade e até de seu país - para fins como exploração sexual, trabalho equivalente ao de escravo, extração de órgãos humanos, e adoção ilegal. Apesar de muitas vezes passar despercebido, este é o terceiro tipo de crime mais lucrativo no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

- A campanha é muito importante, pois é uma oportunidade de orientar as pessoas e prevenir os diversos tipos de tráfico. É levar informação para aqueles que desconhecem o assunto ou que não sabem como denunciar. Nos aeroportos, as pessoas muitas vezes ficam algumas horas nos saguões até embarcar e podem presenciar uma situação suspeita. Despertamos nessas pessoas um olhar diferenciado para que fiquem mais atentas, saibam como agir e sejam multiplicadoras dessas informações – explicou a Inspetora Regional da Guarda Municipal, Tatiana Rodrigues.

A Semana Nacional de Mobilização pelo Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas é coordenada no Brasil pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC) e pela Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), do Ministério da Justiça. Várias ações semelhantes têm acontecido em postos avançados em todas as regiões do país.

A GM-Rio é uma das parceiras do Governo Federal na política de enfrentamento, administrando no município, desde 2010, um Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante no Aeroporto Internacional do Galeão, na Ilha do Governador. A distribuição do kit e o trabalho de conscientização estão sendo feitos por guardas municipais da equipe de palestras da Ronda Escolar e pelos que atuam no posto avançado. Os agentes são capacitados para fazer a recepção a brasileiros não admitidos ou deportados do exterior e estrangeiros com problemas de entrada no Brasil ou no exterior, além de atender e identificar possíveis vítimas do tráfico de pessoas, que são encaminhadas para acolhimento por meio de uma rede local.

No Brasil, de 2005 a 2011, foram investigadas 514 denúncias do crime. Dois terços (344) dos inquéritos eram relacionados com trabalho escravo; outros 157 ao tráfico internacional; e 13 investigaram tráfico interno de pessoas, modalidade onde o índice de denúncias é muito baixo. De acordo com o UNODC, 58% das pessoas traficadas são submetidas a exploração sexual e 36% a trabalho escravo. No mundo todo, entre 2007 e 2010, 55 mil pessoas foram traficadas, sendo 76% mulheres e meninas exploradas em redes internacionais de prostituição. Nesse mesmo período, de cada 100 pessoas enganadas, 27 eram crianças.

Além do empenho dos governos e dos organismos internacionais, o enfrentamento ao tráfico de pessoas exige a mobilização da sociedade e a conscientização de cada cidadão, que tem o dever de denunciar. Para isso, o governo disponibiliza a rede de núcleos e postos estaduais e municipais, a rede consular para apoio no exterior, os serviços Disque 100 (Secretaria de Direitos Humanos), Ligue 180 (Secretaria de Políticas para as Mulheres) e a Central de Atendimento 1746, da Prefeitura do Rio.

A decoradora Marjorie Belzer, 48 anos, e a filha Stephanie, 16 anos, voltaram ao Brasil após dez anos morando no exterior. As duas aprovaram a ação dos guardas no aeroporto.

- Achei um trabalho muito bom. É triste saber que essas histórias existem. O Rio é um lugar maravilhoso de viver, mas ainda temos essa coisa do estrangeiro vir para cá e manipular as pessoas. Agora, pelo menos, a gente já sabe para onde ligar e denunciar. A participação da população é muito importante.

O guarda municipal Josias Barbosa de Souza destacou ainda a importância do engajamento dos funcionários dos aeroportos na identificação de casos suspeitos:

- Os funcionários podem ser uma ponte, pois estão de frente com os passageiros o tempo todo. Eles têm papel primordial, estão aqui todo dia e são capazes de identificar diversas situações. Trazer os funcionários para participar é muito importante. É uma estratégia que faz a diferença e se eles entenderem a ideia, nos ajudam e a gente sai na frente nessa luta.

Além das ações de conscientização, a corporação ainda vai inserir o tema no programa de atividades lúdicas desenvolvido pelo Grupamento de Ronda Escolar (GRE) nas escolas do município, a partir do segundo semestre desse ano. Em uma palestra preventiva para alunos e responsáveis, os guardas municipais farão um alerta sobre o tráfico de pessoas.

O Coração Azul representa a tristeza das vítimas do tráfico de pessoas e nos lembra da insensibilidade daqueles que compram e vendem outros seres humanos. O uso da cor azul das Nações Unidas também demonstra o compromisso da Organização com a luta contra esse crime que atenta contra a dignidade humana.