19/03/2015 17:04:00 » Autor: Juliana Romar/Fotos: Eduardo Rocha
A Prefeitura do Rio entregou, nesta quinta-feira (19/03), certificados aos 85 produtores culturais independentes selecionados pelo Prêmio de Ações Locais, cujos projetos serão incluídos no calendário comemorativo dos 450 anos do Rio. A cerimônia aconteceu na Arena Fernando Torres, no Parque Madureira. A iniciativa é uma ação conjunta entre a Secretaria Municipal de Cultura, o Comitê Rio450 e o Instituto Eixo Rio, e reforça a relação entre cultura e cidadania, valorizando uma grande tradição carioca: a capacidade de criar, inovar e se renovar.
Aberto a inscrição de pessoas físicas e microempreendedores individuais, o Prêmio de Ações Locais democratizou e facilitou o acesso de realizadores independentes às ferramentas de fomento público. Ao todo, 828 concorrentes tiveram oportunidade de apresentar sua arte para uma banca julgadora. Os 85 produtores premiados receberão R$ 40 mil para realizar suas atividades ao longo de um ano. Boa parte dos selecionados usam as ruas e praças como palco de seus espetáculos.
- Essa iniciativa facilitou o acesso de quem produz cultura aos financiamentos públicos e será mantida como política cultural. Ela tem o objetivo claro de encontrar e apoiar as manifestações culturais na cidade, do grafite ao samba, da pintura ao teatro - afirmou o secretário-executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho.
Entre os projetos selecionados estão cineclubes, rodas de poesias, festivais de cultura afro, sustentabilidade, educação e música. Fazem parte, por exemplo, as rodas de rimas do Méier e de Bangu, a Folia de Reis do Morro Dona Marta, a batalha de barbeiros de Campo Grande, o grafite do Viaduto de Realengo, e a cinebicicleta do Complexo da Maré.
Este último, batizado de "Cineminha no Beco", já é uma realidade há dois anos. É em cima de uma bicicleta velha, com um aparelho de DVD de segunda mão, uma lona de toldo e um projetor doado, que Bhega Silva - como é conhecido o músico Lindenberg Cícero da Silva, 56 anos - promove sessões de cinema gratuitas para a comunidade. A verba para esse aparato ele conseguiu vendendo para uma refinaria o óleo de cozinha doado pelos moradores da comunidade.
- Foi a primeira vez que eu me inscrevi em um edital e fiz o cadastro no último dia porque uma amiga insistiu muito. Estou muito feliz porque o cineminha vai melhorar e as crianças vão ficar muito felizes. Com esse prêmio vou comprar uma bicicleta elétrica, investir em equipamentos novos e em uma tela maior e melhor – explicou Bhega.
O Prêmio de Ações Locais atende uma preocupação da prefeitura de levar as comemorações dos 450 anos para toda a cidade. Como se trata de um prêmio para reconhecer o talento, não haverá necessidade de prestação de contas. Os premiados precisam apenas comprovar a realização de suas atividades. O prêmio aprimora instrumentos que já tinham sido lançados pelo programa Cultura Viva e complementa a rede de Pontos de Cultura, Pontos de Leitura e Pontões de Cultura, implantados na cidade a partir de 2013, graças a uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Ministério da Cultura.
Outro projeto que vai utilizar o prêmio para ampliar sua estrutura é o "Palhaçadaria", da artista de circo e teatro de rua Maria Leydiane de Assis, 23 anos. A jovem realiza desde 2010 uma oficina gratuita de palhaço na Lona Cultural Municipal Terra, em Guadalupe (às terças-feiras, das 17h às 19h), e não vê a hora de poder levar apresentações circenses para as praças de diversas regiões da cidade:
- Esse prêmio veio abrir as portas e ajudar muito com a estrutura financeira, porque vamos melhorar a oficina em mais de 200%. Atualmente temos 15 alunos, sendo três deles com necessidades especiais. O cadeirante é o atirador de faca, e também temos uma palhacinha com Síndrome de Down. Não há limite de idade para participar. Nosso objetivo é ensinar e resgatar a arte do circo e do teatro de rua com reprises circenses tradicionais. Com o prêmio vamos investir na construção de cenários, em fantasias e adereços, aquisição de material e equipamento e um novo aparelho de som, além de contratarmos um profissional do circo com 35 anos de experiência para trabalhar na oficina.
O processo de seleção incluiu a capacitação de agentes culturais que atuaram nas comunidades com o objetivo de esclarecer dúvidas e de convidar os realizadores locais a se inscreverem. Já a triagem incluiu escutas para as comissões avaliadoras, que foram compostas por especialistas em cultura urbana e cultura carioca. Este trabalho permitiu à Secretaria Municipal de Cultura traçar um rico mapa da cultura produzida em todas as regiões da cidade.
- O legal foi ver que 52 bairros e favelas foram contemplados e que quase 70% desses projetos serão realizados nas APs 3, 4 e 5, que correspondem aos subúrbios e às zonas Norte e Oeste do Rio, regiões que realmente merecem receber projetos culturais – disse o secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero.