Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Alunas do Projeto Damas comemoram formatura no Dia da Visibilidade Trans

29/01/2015 18:39:00  » Autor: Fotos: Raphael Lima


Vinte e quatro alunas da quinta turma do Projeto Damas - curso de capaticação profissional para travestis e transexuais - receberam nesta quinta-feira (29/01) o certificado de conclusão de Capacitação e Inclusão Social no Mercado de Trabalho. A formatura encerrou o ciclo de debates do III Seminário de Cidadania Trans — Dignidade, Inclusão e Respeito, que marcou as comemorações do Dia Nacional da Visibilidade Trans na Prefeitura do Rio. 

 

 


— É preciso mostrar que nem toda travesti ou transexual tem de ser prostituta ou artista. Muitas e muitos deles têm os mesmos sonhos de qualquer pessoa: tornarem-se médicos, advogados, arquitetos. Elas querem espaço de igual para igual no mercado de trabalho, haja vista o resultado da pesquisa realizada pelo Grupo Transrevolução indicando que 92% delas gostariam de estar no mercado de trabalho — disse Carlos Tufvesson, coordenador da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio (Ceds) que organizou o evento. 

 



O Projeto Damas envolve as secretarias municipais de Educação, Desenvolvimento Social, Saúde, e Trabalho e Emprego, que trabalham em conjunto com a Ceds. O programa promove a reinserção social e profissional de travestis e transexuais, através de capacitação, incentivo a escolaridade, e empregabilidade, com oficinas de trabalho, ética e comportamento, orientação vocacional, educação, informações sobre prevenção e reduções de danos à saúde, noções de direitos humanos e visitas guiadas.

 

 



Nos últimos quatro anos, mais de 100 travestis e transexuais participaram do Projeto Damas, que garante o aperfeiçoamento em diversas disciplinas, oferece atendimento de saúde e assegura um período de estágio em órgãos públicos. Das 30 alunas que começaram o curso ano passado, um terço não concluiu por um motivo nobre: o ingresso no mercado de trabalho formal. As que concluíram terão a oportunidade de estagiar em órgãos da prefeitura. A técnica em enfermagem Roberta Castilho de Andrade, 25 anos, vai trabalhar pela primeira vez com carteira assinada: 

 

 

 

 

 

— Ainda não consegui exercer a minha profissão, mas o Damas foi um impulso à minha autoestima, pois quero trabalhar como qualquer cidadão. Antes, eu vivia sem esperança de ter um emprego digno. Através de uma amiga que participou do projeto, participei de uma entrevista e vou começar como caixa de supermercado. Com certeza, vou me sentir útil. É o primeiro degrau que subo no mercado formal, já que vou trabalhar pela primeira vez com carteira assinada.

 

 



Outra aluna da quinta turma do Projeto Damas, Nicole da Conceição, 24, foi contratada após estagiar por dois meses como recepcionista em uma Clínica da Família: 

 



— Esse projeto não trouxe apenas o conhecimento de leis e informações valiosas sobre saúde e postura na hora de uma entrevista de emprego, mas reforçou a fé que cada uma de nós tem para seguir em frente, lutando por um espaço no mercado de trabalho. Sou grata a todos por terem abraçado a minha causa.

 


 


O seminário, promovido pela Ceds e pela Secretaria Municipal de Saúde, ofereceu ao público debates sobre as diferenças e convergências das demandas de homens e mulheres trans e sobre as políticas inclusivas de acesso ao estudo e ao trabalho. O evento apresentou também a Cartilha do Programa de Atenção Integral à Saúde da População de Transexuais e Travestis na Rede Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (em anexo). A mesa de abertura contou com as presenças do vice-prefeito e secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adilson Pires; do secretário municipal de Trabalho e Emprego, Augusto Lopes; da superintendente da Secretaria Municipal de Saúde, Christina Boaretto; e do assessor jurídico da Ceds, Carlos Alexandre Neves Lima.

 

 



O primeiro debate discutiu o tema "Transmasculinidades e Transfeminilidades: Diferenças e Convergências das Demandas de Homens e Mulheres Trans". Participaram da conversa a Dra. Livia Drummond Casseres, coordenadora do Núcleo de Discriminação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro; o professor de Educação Física da rede municipal Benjamin Braga; a guarda municipal Jô Lessa; a advogada Giowanna Cambrone; e Barbara Aires, militante do Movimento Trans. A segunda etapa do seminário abordou a temática "Trans - Dignidade, Inclusão e Respeito". Participaram Victor Borges Lopes de Souza, representante da Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego; Millena Santana, ex-aluna do Projeto Damas; Maria Helena, professora do projeto; e a supervisora do Damas, Beatriz Cordeiro.

 

 


Formada em Letras e ex-aluna do Damas, a recepcionista da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Milena Santa, 25 anos, participou da última mesa do ciclo de debates e contou sua experiência após completar 10 meses com carteira assinada:

 



— Uma parceria da Ceds com a Defensoria Pública permitiu que eu pudesse estagiar por cinco meses e, hoje, sou contratada, graças à demanda ligada à diversidade sexual e à minha competência. Hoje, penso em estudar Direito para ajudar tanta gente que aparece por lá. Antes dessa oportunidade, sempre esbarrei no preconceito de ser transexual. Ninguém deveria ser julgado pela sua identidade de gênero.


Arquivos relacionados:
  » Cartilha.pdf -   - 




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