12/12/2014 12:40:00 » Autor: Flávia David / Fotos: Raphael Lima e Ricardo Cassiano
Das 25 propostas mais bem avaliadas pelos participantes do primeiro desafio Ágora Rio, mais da metade já está em fase de execução ou em estudo pela Prefeitura do Rio. A primeira delas - o wayfinding (sinalização para pedestres) - será implantada ainda esse mês na orla do Leme e de Copacabana. Enquanto isso, os autores das 13 propostas eleitas para fazer parte do dia a dia da cidade vivem a expectativa de ver suas ideias nas ruas.
- Elaboramos a proposta e apresentamos na plataforma, mas saber que a prefeitura também estava atenta a isso foi uma grande e satisfatória surpresa. É de extrema importância tornar o passeio público amigável, através de obras de requalificação, mas também é fundamental que os pedestres tenham a oportunidade de se orientar melhor. Durante nossas pesquisas, identificamos cidades do mundo inteiro que possuem projetos muito bem sucedidos de wayfinding, que orientam os pedestres a chegar ao local desejado em menos tempo. E essa orientação pode se dar através de totens, material impresso e digital - explicou a moradora de Jacarepaguá Thais Medeiros de Lima, gerente de comunicação do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP).
Usado em grandes cidades como Londres e Nova York, o sistema sugerido pelo ITDP será implantado pela Riotur até o final de dezembro e terá o Cristo Redentor como ponto cardeal: em cada nova placa, estará indicada para qual lado está o mais tradicional monumento da cidade. Após a fase de testes e de eventuais ajustes, o wayfinding será estendido a outros pontos da cidade, como Barra da Tijuca, Maracanã e Centro. Até o segundo semestre de 2015 serão instalados cerca de 500 painéis com informações turísticas pela cidade.
Autor da ideia mais votada do primeiro desafio - o uso de energia solar na iluminação pública -, Marcel Peres vê a possibilidade de sua ideia ser implantada cada vez mais perto. A Rioluz está realizando estudo sobre a viabilidade econômica desse tipo de iluminação nos postes que serão instalados ao longo do trajeto da Transolímpica, corredor BRT (Bus Rapid Transit) que vai ligar Deodoro ao Recreio dos Bandeirantes.
- Vi uma reportagem sobre o assunto em um programa sobre a Alemanha. Lá, o governo dá suporte às famílias que desejam instalar o sistema em suas casas, barateando o custo de instalação da aparelhagem. Ali surgiu o meu sonho de poder ver esta iniciativa ser implantada no Rio de Janeiro. Se não der para instalar na cidade inteira, que seja feito, pelo menos, nas vias principais. Trata-se de uma ação preciosa, que representaria uma economia drástica de gastos com energia, que não é barata - disse Marcel.
A Prefeitura do Rio já atua, desde 2011, com sistema híbrido de iluminação, com dois tipos de alimentação: eólica e solar. Até o momento, o sistema está presente em duas áreas da cidade, no Mirante da Prainha e no Parque dos Atletas, ambas na Zona Oeste.
Outra proposta de Marcel também vai se tornar realidade: a construção de um terminal rodoviário que atenderá aos moradores de Curicica e outras regiões. O projeto de construção da Transolímpica prevê ligação com a Transcarioca no bairro.
Entre os cidadãos cariocas que terão suas ideias atendidas está a servidora da Secreteria Municipal de Saúde Clarissa Mello. Usuária do sistema de aluguel de bicicleta Bike Rio e moradora do Centro, Clarissa sugeriu que as estações do projeto fossem interligadas por ciclovias. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) informou que muitas das estações já possuem essa ligação (principalmente na Zona Sul), mas está elaborando projeto que prevê cerca de 8 km de rotas cicloviárias que ligarão o Centro à Praça Saens Peña, na Tijuca. Essas rotas serão interligadas e alimentadoras dos transportes de massa e incluirão pontos do Bike Rio.
- Sou usuária do Bike Rio desde que me mudei de Niterói para o Rio, no ano passado. Eu e meu namorado andamos muito de bicicleta e sentimos falta de ciclovias ligando o Centro, onde moramos, ao resto da cidade. Aí surgiu a ideia de propor uma ciclovia que interligue as estações. Bicicleta é um meio de transporte muito bacana, diminui a poluição, e evita trânsito - disse a servidora.
Clarissa também participou dos debates presenciais entre os participantes do Ágora Rio e representantes da prefeitura e elogiou a abertura de diálogo entre os cidadãos e os órgãos públicos:
- O Desafio Ágora foi de extrema importância pra mostrar que a prefeitura está tentando ter um diálogo aberto com a população. É claro que ainda precisa melhorar, mas é um aprendizado mútuo, tanto da população quanto do gestor municipal. Já estou pensando no que posso sugerir para o próximo desafio, sobre mobilidade.
Entre as ideias que estão em fase de estudo ou execução pela Prefeitura do Rio está ainda a "Qualidade Cidadã para o Ônibus Urbano Comum", de autoria de Luiz Villano. Ele defendeu uma definição de padrão para os ônibus comuns, e o fim dos veículos com motor dianteiro e piso elevado. Atualmente, 65% da frota urbana de ônibus do Rio é composta por ônibus novos ou seminovos, contando com todos os equipamentos de acessibilidade, inclusive plataforma elevatória e piso baixo para embarque de passageiros com mobilidade reduzida.
Os demais 35% já estão adaptados para acessibilidade, oferecendo os equipamentos: assentos preferenciais para obesos, gestantes e deficientes visuais, com espaço para cão-guia, campainha sonora diferenciada, balaústre táctil e piso antiderrapante. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, por questões de segurança veicular, esses ônibus não podem receber a plataforma elevatória, mas serão substituídos em breve por outros que já contam com os equipamentos.
A sugestão de instalação de cestos ecológicos de bueiros para evitar enchentes e pontos de alagamento na cidade, apresentada pela participante Suzana Machado, foi recebida com orgulho pela Secretaria Municipal de Conservação, que criou projeto semelhante. Com alto índice de aprovação, os cestos começaram a ser implantados pela prefeitura em 2009 e hoje totalizam cerca de 4.000 bueiros da cidade, sendo 3.500 em ruas que recebem feiras livres e outros 250 deles nas ruas mais arborizadas da região da Grande Tijuca.
Já a ideia de Igor Abreu, defendendo a criação de uma plataforma online em que os usuários possam avaliar o serviço prestado pelas empresas de ônibus do Rio de Janeiro através de notas, comentários, fotos e vídeos, é aplicada pela Secretaria Municipal de Transportes através da Central de Atendimento 1746, que também está disponível em aplicativo para smartphone. Essas avaliações são consolidadas num ranking de linhas/Consórcios mais reclamados, que está disponível no site Transparência da Mobilidade. Esse ranking orienta as ações de fiscalização o órgão municipal.
A primeira edição do desafio Ágora Rio teve como tema o legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e recebeu mais de 500 propostas, 2.500 comentários e 17.500 avaliações de 2.000 cariocas e admiradores da cidade. Os temas abordados passaram por Educação, Mobilidade, Sustentabilidade e Esporte. A relação das 25 propostas mais bem votadas pode ser consultada aqui.
-Sendo a nossa primeira experiência, posso dizer que o primeiro desafio foi muito bem sucedido. Foram propostas alinhadas com as necessidades da cidade e, mais do que isso, uma grande experiência de parceria e colaboração entre o governo municipal e a população - disse o coordenador da plataforma Ágora Rio, Luti Guedes.
Luti já se mostra ansioso por conta do desfecho do segundo desafio, lançado no dia 4 de dezembro pelo prefeito Eduardo Paes. A partir de 19/01, os participantes terão três meses para propor ideias sobre o tema Mobilidade Urbana.
- É um assunto que faz parte do cotidiano das pessoas. Acho que essa ligação pessoal do participante com o tema fará desse segundo desafio um sucesso maior ainda - conclui.
A plataforma
O Desafio Ágora Rio é uma das iniciativas do LAB.Rio, o Laboratório de Participação da Prefeitura do Rio, criado para aproximar o poder público do cidadão carioca. Através de experiências digitais, como o Ágora Rio, e presenciais, como o IMERSÃO, o LAB.Rio experminta novas formas de participação cidadã. O IMERSÃO vai colocar 30 pessoas para passar três dias imersas na prefeitura, ouvindo, debatendo, e conhecendo instalações, obras e projetos de perto. As inscrições já estão abertas.
Todos os desafios do Ágora Rio terão a mesma estrutura. A primeira etapa é a fase de proposição, na qual os participantes poderão dar suas ideias e discutir com os demais na plataforma. Nesta fase, a Prefeitura do Rio acompanha com suas secretarias para esclarecer o que já está sendo realizado e o que pode vir a se tornar concreto.
A segunda etapa é a discussão. Neste momento, são realizados encontros presenciais para diálogo e troca de conhecimento entre os representantes da prefeitura e a população que participou do processo. Durante o desafio do legado olímpico, a Prefeitura do Rio realizou encontros presenciais em diversos locais da cidade, como no Complexo do Alemão; no Imperator, no Méier; e no Museu de Arte do Rio (MAR), na Região Portuária. Nestes eventos, o objetivo foi o diálogo e a troca de conhecimento entre técnicos da prefeitura com a população e os autores das principais ideias.
Após esta fase, as ideias mais bem ranqueadas são colocadas para votação popular. Encerrada a escolha, é produzido um documento, de forma colaborativa, com as ideias e suas vertentes. Em seguida, a prefeitura faz análise de viabilidade das propostas. A última etapa do desafio é a apresentação das propostas que poderão ser adotadas. Nesta última fase, a Prefeitura do Rio apresenta quais serão as medidas tomadas e lança o novo desafio.
A plataforma faz parte do programa Rio Colaborativo – pacote de ações que prioriza a gestão participativa – da Prefeitura do Rio. Na mesma linha, já foram realizadas iniciativas como o Hangout On Air, o Hackaton 1746 e a plataforma digital Rio+. A Central 1746, criada em 2011, também é uma das formas da gestão colaborativa. Todas essas ações tem o mesmo objetivo: aproximar ainda mais a Prefeitura do Rio do cidadão carioca.
A inspiração para a criação deste canal de comunicação com a sociedade veio das Ágoras gregas – o espaço público onde ocorriam as discussões políticas na Grécia Antiga. No Ágora Rio, como em qualquer ágora, todo cidadão tem o mesmo espaço e direito de expressão que qualquer outro, sem hierarquias ou representantes.
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