Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Cais do Valongo recebe placa comemorativa por seu valor na memória da diáspora africana

20/11/2013 13:33:00  » Autor: Juliana Romar / Fotos: J.P. Engelbrecht


Nesta quarta-feira (20/11), quando se comemora o Dia da Consciência Negra, o Cais do Valongo - um dos raros patrimônios materiais vinculados à escravidão de africanos e sua diáspora pelo mundo – recebeu da Prefeitura do Rio, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), a chancela de patrimônio cultural. Para celebrar a data, uma placa reconhecendo a importância do espaço para a memória da diáspora africana foi inaugurada no local.


O evento contou com o Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que reúne membros de 20 países, e reforçou ainda mais a intenção da cidade de lançar a candidatura do sítio arqueológico a patrimônio mundial.


O chefe da Seção de Diálogo Intercultural da Unesco e diretor do Projeto Rota do Escravo, Ali-Moussa Iye, agradeceu a Prefeitura do Rio pela iniciativa:


- O Projeto Rota do Escravo está fixando pela primeira vez no mundo uma placa reconhecendo um local como patrimônio da memória da diáspora africana. É um momento muito importante. Estou muito contente e honrado pela visibilidade e destaque que a cidade do Rio de Janeiro está dando ao Cais do Valongo, que é um dos mais importantes locais de memória da diáspora africana e do tráfego de africanos escravizados. A placa significa, sobretudo, uma abertura de diálogo e de compreensão sobre a resistência, a liberdade e a herança da cultura africana nas américas.


O Cais do Valongo foi construído em 1811 para o desembarque e comércio de africanos escravizados. Em 1843, foi remodelado e rebatizado de Cais da Imperatriz. Em 1911, foi aterrado e deu lugar à Praça do Commercio. Em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, o local foi redescoberto, preservado e exposto à população. Situado na Avenida Barão de Tefé, na região portuária da cidade, ele faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana e sua descoberta trouxe à tona a importância histórica e cultural da Região Portuária para a compreensão do processo da diáspora africana e da formação da sociedade brasileira.

 

- No Porto Maravilha, pensamos no futuro e resgatamos o passado a todo o momento. Ao mesmo tempo em que estamos preparando uma área totalmente reurbanizada, o passado deste lugar - especialmente da cultura negra - aparece com todo vigor. O Rio de Janeiro tem muito orgulho das nossas raízes e dos nossos antepassados negros. Por isso, queremos que o Cais do Valongo e o Circuito da Herança Africana sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial pela Unesco - destacou Washington Fajardo, presidente do IRPH, que não estava presente no evento, mas enviou sua mensagem através da coordenadora do IRPH, Laura di Blasi, que o representou.

 

Após a inauguração da placa comemorativa, os representantes do Comitê Internacional da Unesco fizeram o Circuito da Herança Africana, que inclui o Cemitério dos Pretos Novos, o Largo do Depósito, o Jardim do Valongo, a Pedra do Sal e o Centro Cultural José Bonifácio – inaugurado nesta quarta-feira pelo prefeito Eduardo Paes.

 

O representante brasileiro do Comitê da Unesco, o antropólogo e fotógrafo Milton Guran, explicou como será o processo da sugestão de lançamento da candidatura do sítio arqueológico do Cais do Valongo como patrimônio mundial:

 

- Precisamos que o Iphan faça o tombamento do Cais do Valongo, o que já está em processo de estudo. Uma vez tombado o cais entrará na linha de indicação para Patrimônio da Humanidade da Unesco. Isso demora mais ou menos um ano. Estamos correndo contra o tempo para dar esse presente ao Rio de Janeiro no seu aniversário de 450 anos, em 2015. Em 20 ou 30 anos esse local será tão visitado quanto o Pão de Açúcar. A cidade do Rio de Janeiro, ao longo dos quase quatro séculos de escravidão, recebeu sozinha cerca de 20% de todos os africanos escravizados que chegaram vivos nas américas. Isso faz da cidade e do Cais do Valongo uma referência do que foi a maior transferência forçada de população na história da humanidade. E, junto com tudo isso, vieram a cultura e os valores mais importantes do continente africano que carregamos hoje.


Desde segunda-feira (18/11), o Comitê da Unesco vem se reuinindo a portas fechadas na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro, para discutir sobre o Projeto Rota do Escravo.




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