Evento foi uma prévia do que acontecerá durante a Mostra de Arte Pública do Rio, em agosto
21/05/2011 15:54:00
O prefeito Eduardo Paes participou, neste sábado, dia 21, do “Marathon”, maratona de entrevistas do curador suíço Hans Ulrich Obrist, cujo tema abordou "O Futuro da Cidade". O evento, inédito no Brasil, foi uma prévia da maratona que acontecerá durante a Mostra de Arte Pública (MAP Rio), exposição ao ar livre que a cidade sediará em agosto. O debate também contou com a participação do prêmio Pritzker de arquitetura Lord Norman Foster e do artista plástico Vik Muniz (curador da MAP), que discutiram com o prefeito e o entrevistador as mudanças e as expectativas para vida nas grandes cidades.
A MAP Rio é um projeto do Instituto Arte em Trânsito, que tem curadoria de Vik Muniz, e visa democratizar a arte contemporânea. Em agosto, na mostra, Obrist entrevistará, num período de 24 horas, um total de 50 personalidades nacionais e estrangeiras entre artistas, poetas, filósofos, escritores, acadêmicos, músicos, arquitetos designers e cientistas. O projeto visa discutir ideias e temas importantes que são definidos dependendo da geografia de onde acontece a Maratona. O Rio de Janeiro será a 19ª cidade a realizar o debate, que também já esteve presente em locais como Atenas, Berlim, Itália, Nova Deli, Dubai, Frankfurt, Londres e China.
Durante a prévia da maratona neste sábado, um dos principais assuntos abordados pelos entrevistados foi a transformação pela qual o Rio de Janeiro vai passar para receber os Jogos Olímpicos de 2016. Um dos mais badalados nomes da arquitetura contemporânea, o britânico Norman Foster, responsável por projetos de ícones arquitetônicos, como o domo do Reichstag de Berlim e a prefeitura de Londres, destacou as vantagens dos eventos esportivos para o legado das cidades. No caso do Rio de Janeiro, Foster destacou algumas características que beneficiam a cidade carioca:
- O futuro da sociedade tem a ver com a cidade. O processo de transformação urbana depende de uma boa infraestrutura, de harmonia com a natureza e de mobilidade do transporte público. E vejo que isso tudo pode ser feito aqui. O Rio é fantástico, uma cidade densa, com belas paisagens e áreas para regeneração. É fascinante isso porque os prédios podem ser trabalhados integrados à natureza e de forma sustentável. A cidade tem recursos e deve combinar o melhor em termos de infraestrutura para ficar de legado após os jogos. E se tiver que criar instalações, que sejam flexíveis, pensando nas gerações futuras. Especificamente para o Rio, no meu ponto de vista, posso dizer que seria um sonho fazer mais prédios sustentáveis, com menos consumo de energia, e o que for melhorar a qualidade de vida das pessoas. E isso pode ser algo a ser mudado desde agora - aconselhou.
O prefeito Eduardo Paes ressaltou o momento especial e de oportunidades pela qual a cidade passa a partir da escolha da cidade como sede das Olimpíadas de 2016. Para ele, isso significa dizer que é "alcançar sonhos impossíveis e superar obstáculos que provavelmente não teríamos condições de fazer em situação normal". Ele destacou os sonhos para o Rio de Janeiro: a questão da mobilidade das pessoas, o que permitirá que elas vivam em condições mais adequadas; que o fantástico ativo econômico da cidade, que é a natureza, possa ser preservada cada vez mais; e que as pessoas possam viver em locais urbanizados; e que tenhamos uma sociedade socialmente mais justa, em que os serviços públicos possam ter mais qualidade.
- O que temos pela frente são oportunidades para transformar a cidade com os Jogos Olímpicos. Mais do que investir em estádios grandiosos é transformar a cidade: na mobilidade urbana, no transporte das pessoas, nos espaços que são tão característicos da população do Rio. E concordo com o Foster, que temos que ter a visão histórica das coisas, mas não se ater à história para deixar de inovar - afirmou.
Durante a sabatina, Paes falou sobre algumas experiências que teve em outras cidades, como nas visitas à Londres, Barcelona e Atenas. Lá, ele foi conhecer de perto o que havia sido feito de fato nas cidades para receber os jogos olímpicos e o que havia ficado de legado para a população.
- Eu não compararia Londres com o Rio. Mas as outras cidades tinham uma situação parecida com o Brasil: estavam definindo sua economia. Atenas também sofreu muitas intervenções na infraestrutura, mas continuou parecida com o que era antes. E Barcelona, nosso grande exemplo, mudou completamente após os jogos do ponto de vista urbano e social. E para o Rio, o mais importante é passar por grandes transformações, fazendo o que tiver que ser feito de benefícios para ficarem de legado para a cidade.
O artista plástico e curador do MAP, Vik Muniz, destacou que o evento em agosto vai rediscutir a cidade e sua cultura visual. Ele falou da importância de se difundir a cultura em locais em desenvolvimento:
- As notícias que os estrangeiros têm lá fora do Rio retratam uma cidade dividida, polarizada pela violência. E isso tem efeito sobre como a cultura é difundida. Fica claro a diferença entre favela e asfalto. Mas já é possível ver mudanças no âmbito da segurança, por exemplo, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora. Por isso, esse é um momento que temos de repensar ideias para reestruturar a cultura e transformar a cidade. Levaríamos cinco décadas para fazer o que poder ser feito nos próximos cinco anos. Temos a obrigação de aproveitar essa oportunidade.
No encontro, o prefeito ressaltou ainda o futuro da região portuária que vai receber também equipamentos do projeto olímpico. Ele citou as intervenções do Porto Maravilha, o Museu do Amanhã e as transformações urbanísticas, como a derrubada da Perimetral. Quando perguntado sobre os planos para a arte contemporânea no Rio, Paes destacou que "a cidade está aberta a todos os tipos de cultura e de artes e que isso pode ser uma grande oportunidade para a cidade após os jogos olímpicos, pois o Rio é um lugar de lazer, entretenimento e uma cidade muito criativa".
No final da entrevista, o prefeito comentou o seu desejo de ter na cidade um equipamento projetado por Norman Foster:
- O Rio tem que ter projetos de grandes arquitetos aqui. Já temos o Calatrava com um trabalho no Porto e, quem sabe, não traremos o Foster para o Rio também - disse, referindo-se inicialmente ao arquiteto espanhol Santiago Calatrava, responsável pelo projeto do Museu do Amanhã.
Texto: Juliana Romar
Fotos: J.P. Engelbrecht
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