Pedra do Sal: lugar que um dia foi chamado de Pequena África

27/04/2015 03:00:00


 

No local até hoje se encontra a Comunidade Remanescentes de Quilombos da Pedra do Sal


O tempo fala de muitas histórias que envolveram milhares de negros que chegaram à cidade no início do século XVII para serem vendidos em um grande mercado de escravos. Mais precisamente na Pedra do Sal, na Saúde, há 100 metros do Largo da Prainha, na Praça Mauá.

 

A Pedra do Sal tem como base o Largo do João da Baiana


Reduto também das primeiras grandes docas da cidade, que surgiram já no século XIX, quando muita gente vinda da Bahia, ávida por vagas de estivadores do Cais do Porto, se instalou em moradias baratas por becos e ruas tortuosas.

 

Tia Ciata (de pé), Hilária Batista de Almeida, grande responsável por manter as tradições africanas no local


Esse mesmo lugar, pela influência africana, foi testemunho de um rico passado religioso, alimentado pela colônia baiana em terreiros de candomblé e grupos festeiros. Pontos de encontro que se tornaram referências da cultura negra.

 

João da Baiana e Jota Efegê nas escadarias
da Pedra do Sal, em 1920

 

Foi essa área bem antiga do Rio que acolheu "as tias baianas", como Ciata, Bibiana, Perciliana, entre outras, que se encontravam no terreiro de João Abalá, formando um dos núcleos principais de organização e influência sobre a comunidade. O que garantiu a permanência das tradições africanas e suas transformações. Entre elas, o samba e os ranchos. Sendo que o samba, como o candomblé, tidos como perigosos na época, eram objetos de constantes perseguições.

 

Por volta de 1930, a Pedra do Sal continuava a respirar muitas festas, frequentadas pelos baianos, negros, artesãos, funcionários públicos. Festa inclusive do carnaval carioca, formado por ranchos, blocos e cordões, que resultariam nas futuras escolas de samba. Nos bailes das casas se tocava o partido alto e nos terreiros, o samba raiado e as rodas de batuque. Muita música acompanhada por pandeiro, tamborim, agogô, surdo, ou com o que estivesse à mão: panelas, pratos, e latas, valorizadas pelo ritmo dos negros.

 

Foi nessa região da Saúde, onde a Pedra do Sal era importante referência, que surgiu Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres. Oficialmente, a Saúde está limitada entre a Praça Mauá e a Barão de Tefé, abrangendo o morro da Conceição e o Valongo. Entretanto, a comunidade local estabelece que seu limite real e histórico se estende até a região da Gamboa.

 

Reduto preservado pela música que revive a nossa história


É na Pedra do Sal, tombada oficialmente em novembro de 1984 como monumento histórico da cidade, que até hoje ecoam nossas memórias musicais, lembradas tão bem por grupos que continuam valorizando as raízes afro-brasileiras com partidos altos, maxixes, choros e sambas seculares.