OPERÁRIO DA SAÚDE DO TRABALHADOR

24/11/2014 04:00:00


 

 

Cyro Haddad Novello, coordenador da Saúde do Trabalhador do Município da Vigilância Sanitária


"Pela ausência ou descumprimento de uma política de segurança efetiva nas empresas e da adoção de práticas como a terceirização de mão de obra e, consequentemente, subcontratações, inclusive ilegais, muitos operários na cidade se expõem a condições precárias e à desproteção social." Para começo de conversa, é com essa constatação realista que Cyro Haddad Novello, coordenador da Saúde do Trabalhador do Município da Vigilância Sanitária, justifica o expressivo número de acidentes ocorridos na cidade. "Nosso trabalho é fiscalizar as empresas que descumprem a legislação, que é bem vasta no nosso município e assegurar assim condições dignas de trabalho à classe trabalhadora, formal ou informal," afirma Cyro, um dos membros de uma grande equipe de 35 profissionais, dos quais 10 são técnicos capacitados para fazer a vigilância da Saúde do Trabalhador.

 

Com essa equipe, a Saúde do Trabalhador também investe em medidas sócio-educativas e na capacitação dos profissionais da rede SUS. "Estamos sempre atentos à relação entre o adoecimento do trabalhador e a sua atividade. Nessa vertente, há muitos anos são desenvolvidas ações por nossas equipes capacitadas. Elas atuam de maneira incansável na garantia do direito por um trabalho que não seja nocivo e por condições de saúde dignas", esclarece Cyro.

 

Entre tantas atividades e ações coordenadas por ele, à frente do CESAT – Centro de Saúde do Trabalhador –, está também regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e a prestação de serviços em saúde do trabalhador no município; inserir as ações de Saúde do Trabalhador na Atenção Básica, Urgência/Emergência e Rede Hospitalar, por meio de protocolos, linhas de cuidado e outros instrumentos que favoreçam a integralidade dos servidores; estimular a parceria entre órgãos e instituições para a formação e a capacitação da comunidade; desenvolver estratégias de comunicação e elaborar materiais de divulgação sobre epidemiologia.

 

 


"Sou um educador acima de tudo.
Valorizo muito o conhecimento
e as propostas educativas."
Cyro Novello


 

 

Quedas: o campeão dos acidentes de trabalho


Deste universo, segundo Cyro Haddad Novello, as empresas com maior índice de acidentes de trabalho são os de serviço e da construção civil, com a queda de operários (o mais frequente entre todos que acontecem na cidade), que se concentram na zona sul, centro em muitos bairros do subúrbio carioca. "Fora os elevados casos de contaminações e também acidentes nas empresas de agronegócio e parques industriais", acrescenta Cyro, que se segue explicando: "as demandas que a gente costuma receber são provenientes principalmente do Ministério Público do Trabalho, de entidades representativas dos trabalhadores, da SUBVISA – Superintendência da Vigilância Sanitária – e de outras fontes de denúncia, como 1746". Ao todo, segundo ele, o CESAT recebe em média de 20 a 30 denúncias por mês, automaticamente transformadas em ordens de serviços. "Atendemos o mais rápido possível, pois temos sempre prazos muito curtos."

 

Uma realidade que não impede o CESAT de trabalhar no sentido da promoção e da prevenção da saúde com medidas e vigilâncias educativas, além de outras ações para serem evitados doenças como dermatites, câncer, entre outras, acidentes, mortes, mutilações e processos nocivos à saúde do trabalhador, da população e do meio ambiente. "Com o apoio irrestrito da Secretaria de Saúde, espero termos uma gestão sem precedentes para história da saúde do trabalhador do Rio, com a diminuição direta dos índices de morbimortalidade", afirma confiante o coordenador.

 

É pela educação e pelas ações técnicas de vigilância que o coordenador Cyro Novello e sua equipe da Vigilância Sanitária estão gerando força capaz de mudar o cenário e as estatísticas, ainda muito altas, de morte e adoecimento no trabalho. Com um trabalho que vai além da fiscalização e de ações punitivas, Cyro contribui para a construção de novos olhares e práticas efetivas para a Saúde do Município. "A gente precisa ter um SUS capaz de mudar processos produtivos nocivos, a mentalidade do empresário que ainda adoece seus trabalhadores e expõe o meio-ambiente e a população a situações contaminantes, " declara, esperançoso no que faz.

 

Para Cyro Novello, que encara o seu trabalho não só como meta, mas como um grande desafio a serviço do trabalhador, o risco não é exclusivo do empregado, que não se cuida na hora do acidente. Sua causa está na desorganização das empresas, por falta de equipamentos de proteção, pela pressão, jornadas longas e extenuantes de trabalho, utilização de produtos cancerígenos, etc. "Não devemos individualizar o risco", afirma categórico este sanitarista que, antes de tudo, defende melhores condições de trabalho para a mão de obra carioca, esperando que cada vez mais ela tenha conhecimento não só de seus deveres, mais de seus direitos para seguir produtiva em nome da nossa cidade.


Imagens relacionadas: