Carnaval: uma história que não perdeu a empolgação

17/02/2014 03:00:00


No início do século XX, as brincadeiras continuavam pelas ruas do Rio. As sociedades carnavalescas deram lugar ao corso, que consistia, primeiro, no desfile de carruagens enfeitadas e depois, de automóveis sem capota – repletos de foliões fantasiados que percorriam o eixo Avenida Central (Avenida Beira-Mar). Ao se cruzarem, lançavam uns nos outros, confetes, serpentinas e esguichos de lança-perfume. Uma brincadeira exclusiva das elites, que possuíam carros ou que podiam pagar seu aluguel nos dias de carnaval.

 

O corso, que com a popularização dos automóveis afastou
os foliões das classes alta e média, e nos anos 40, acabaria desaparecendo de vez

 

 

 

Carnaval no bonde, um corso popular

 

 

Com o tempo, o corso se popularizou e em 1910 já ocupava as ruas nos 3 dias de festa, abrindo espaço para os grupo de ranchos, que dividiam a folia com as Grandes Sociedades. Nos anos 30, o prefeito Pedro Ernesto oficializou o Carnaval carioca. E a partir daí, a cidade passou a brincar também em grupos de categorias separadas, como blocos, ranchos, cordões, Zé Pereiras, corso e sociedades. Grupos mais organizados e com muitos participantes. Eram clubes formados por pessoas da sociedade carioca, que organizavam cortejos ou desfiles fantasiados e competiam entre si, inclusive com carros alegóricos.

Os ranchos eram grupos de carnaval mais populares, formados por uma espécie de associação. Os grupos mais desorganizados eram chamados de blocos e cordões, que não eram muito bem vistos. Serviram de inspiração para "grupos de samba", que procuravam aceitação social, e que viriam a se tornar as escolas de samba a partir da década de 1930.

O Zé Pereira foi o primeiro bloco da cidade, seguido do Bumba Meu Boi, Estrela da Mocidade, Grupo Carnavalesco São Cristóvão, Corações de Ouro, Recreio dos Inocentes, Um Grupo de Máscaras, Novo Clube Terpsícoro, Guarani, Piratas do Amor, Bondengó, Lanceiros, Teimosos do Catete, Guaranis da Cidade Nova, Prazer da Providência, Prazer do Livramento.

 

Cordão do Bola Preta

 

 

 

O popular Cordão da Bola Preta, fundado em 1918, é um dos mais antigos e resistentes blocos de rua do carnaval carioca. No final dos anos 80, reunia não mais que 5 mil foliões. Hoje, arrastando verdadeiras multidões, continua sendo o maior cordão de carnaval do país.

Ao longo da história, a mistura de diferentes grupos nas ruas foi dando uma identidade própria e criativa à festa carioca, que até hoje é cultivada. Uma multiplicidade de formas, cores, fantasias e ritmos carnavalescos, que se soltam pelos bairros da cidade num clima de liberdade organizada. Anos depois, já na década de 50 para 60, surgiram os blocos Bafo da Onça e Cacique de Ramos, que também arrastam milhares de carnavalescos até hoje pelas ruas do Centro.

 

O Bafo da Onça nasceu no Catumbi, zona norte do Rio, e teve como fundador Sebastião Maria, que saia vestido de onça, com a cabeça do lado de fora. As mulheres e as crianças saiam, em fila, no lado esquerdo, enquanto os homens desfilavam do lado direito

 

 

O Cacique de Ramos original do subúrbio de Ramos, na Leopoldina, foi fundado por um grupo de amigos e três famílias no dia do padroeiro São Sebastião, 20 de janeiro de 1961. Foi berço de grandes sambistas, como Almir Guineto, Arlindo Cruz, Monarco, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho entre outros

 

 

Monobloco, que marcou o início dos blocos trazendo multidões

 

 

Do final dos anos 80 para os anos 90, o Carnaval de rua reaqueceu no Rio e surgiram vários blocos, como o Suvaco de Cristo, no Jardim Botânico, o Simpatia É Quase Amor, em Ipanema (85), Nem Muda Nem Sai de Cima, na Tijuca, Meu Bem Volto Já, no Leme, o bloco das Carmelitas, em Santa Teresa... todos blocos que vieram se juntar à alegria da famosa Banda de Ipanema, fundada pelos representantes do “Pasquim”, em 1964 e que continua sendo a marca do carnaval da zona sul até hoje.

Ao som de marchinhas carnavalescas e sambas ou enredos misturados ao maracatu, jongo, coco, funk e outros, a sátira social e política continua nas ruas com muita ironia e bom humor nos 457 blocos que irão desfilar este ano pela Barra, Jacarepaguá, Centro, Grande Tijuca, Ilha do Governador, Zona Norte, Zona Oeste e Zona Sul com um público de cerca de 5 milhões de foliões.

Com 98% de aprovação do público, segundo pesquisa realizada pela Riotur, em julho do ano passado, o Carnaval de rua do Rio continua sendo um sucesso tanto para os cariocas como turistas, nacionais e estrangeiros. Mais um motivo para continuarmos esquentando os tamborins porque o Carnaval está chegando!