“Para ser autêntico, eu preciso enaltecer a minha aldeia” (Tolstói)

26/12/2012 00:51:00


 

A história conta que no século XVII, o vigário geral da Freguesia do Irajá ia pelo rio Meriti, que naquela época era navegável, até a estação do Velho Engenho, para depois pegar um cavalo e chegar até a uma igreja. Depois de alguns séculos, a história mudou. O Velho Engenho virou Vigário Geral na década de 40, por causa do padre. E hoje, o Aluísio, um conhecedor profundo do seu bairro, onde vive há 58 anos, para chegar na prefeitura e voltar para casa, vem de ônibus pela Av. Brasil. Sempre com muitas histórias para contar. 

Aluísio Machado da Cruz – administrador da Gerência de RH da SMA, professor universitário de História e Políticas Públicas da cidade e pesquisador de Vigário Geral


Desde 4 anos em Vigário Geral, quando chegou com a sua familia em 1954 vindo de Caxias, Aluísio ilumina a expressão quando fala do seu bairro. "Cheguei lá logo depois da morte de Getúlio Vargas e fui morar em um imóvel que meu pai tinha comprado", lembra ele, cuja boa parte da família está lá até hoje.

Segundo Aluísio, Vigário Geral nasceu como um bairro, mas é uma região, de tanto que foi segmentado. E tem como um dos seus grandes desafios, remover a marca de violência que ficou encrustada nele, de tanto ser explorada pelos meios de comunicação. "A chacina não aconteceu em Vigário Geral, foi na comunidade Parque Proletário, que fica do outro lado da linha do trem e que, por acaso, leva o mesmo nome. A mídia e o livro "Cidade Partida" mostraram Vigário Geral como um gueto. O que não é verdade, relata contrariado.

Um dos 6 coretos existentes na cidade, que virou símbolo do bairro, na Praça Catolé da Rocha


Hoje, o bairro com quase 42 mil habitantes, tem grande importância para a economia da cidade, através do seu comércio, indústrias como de silicone e a DuLoren, entre outras. A Praça 2 com atacadistas e varejistas, é um exemplo da força comercial do bairro. Apesar da falta de uma infraestrutura melhor com bancos, grandes supermercados e escolas técnicas, segundo o servidor. "Vigário Geral chegou a ser nos anos 90 o 2º pólo industrial da cidade, diz Aluísio, acrescentando: "antes, o bairro era apenas residencial e, com o tempo, passou a ter uma população de industriários, comerciantes e prestadores de serviços."

Com filhos, todos com curso superior, Aluísio não é só orgulhoso como pai, mas também orgulhoso do seu bairro, que para ele é como uma cidade do interior, onde as famílias se conhecem e se respeitam.

O 1º Conjunto Habitacional construído com placas pré-moldadas. O número 1 do BNH


Mas a verdadeira declaração de amor ao bairro, Aluísio fez mesmo escrevendo um livro sobre as origens e as transformações de Vigário Geral, a partir da defesa de sua dissertação de mestrado.

"Vigário Geral Outros Olhares" conta todas as transformações do bairro desde a sua colonização.


Inspirado, segundo ele, em Carlos Drummond de Andrade ao escrever o poema "Altamirando", lugar onde nasceu. Aluísio ficou tão encantado que foi até a cidade do escritor. "Eu precisava contar a história do bairro que ninguém conhecia", diz ele. E acabou descobrindo que Vigário Geral tinha mais pra contar do que Itabira.