Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Alunos aprendem Matemática brincando na campeã Escola Francis Hime

23/05/2017 15:48:00  » Autor: Fotos: Hélio Melo


"Aqui aprendemos Matemática brincando". A frase do aluno Angel Fernando, de 11 anos, é comum na Escola Municipal Francis Hime, localizada no bairro da Taquara, em Jacarepaguá, porque lá números, cálculos e fórmulas não são vistos como vilões e, sim, como desafios, premiações e oportunidades. O responsável por tornar a disciplina tão temida em queridinha dos alunos é o professor Luiz Felipe Lins, de 44 anos, 11 deles lecionando na escola.

 

Para atrair os estudantes de uma turma com diferentes níveis de aprendizado e conhecimento, o professor criou uma metodologia própria e específica para a realidade da escola, adaptando conteúdos, montando materiais dinâmicos e ressignificando alguns teores. O objetivo da aula é fazer com que cada aluno entenda os números de forma prática, deixando claro para o que serve o que ele vai aprender.

 

- A Matemática não deve ser responsável por segregar os alunos, mas um meio de gerar oportunidade social - disse o docente.

 

As crianças respiram Matemática na escola Francis Hime. A criação de jogos, com a ajuda dos alunos, é uma das invenções de Luiz Felipe. Divididos em grupos de quatro, os estudantes se debruçam em uma cartolina desenhada por eles simulando um jogo de tabuleiro. De um lado, uma sequência de números negativos e do outro, os positivos. A "brincadeira" também conta com dados preparados por eles seguindo o mesmo tipo de numeração. Cada criança joga os dados, faz suas contas com números positivos e negativos, chega a um resultado e anda com seu peão sobre o tabuleiro. Em geral, objetivo prático de todo jogo é um competidor chegar primeiro ao fim da sequência, mas não neste. A vitória é de todos ao aprenderem a fazer contas, brincando, com números negativos.

 

 - Matemática era um saco, Luiz Felipe fez a disciplina ter graça. Assim é muito mais fácil de aprender a matéria - contou o aluno Dayanni Teixeira, de 12 anos.

 

A participação do professor nas competições de Matemática começou em 2004, quando ainda lecionava na Escola Municipal Silveira Sampaio. Ao ler uma matéria sobre um aluno medalhista nas Olímpiadas de Matemática do Estado do Rio de Janeiro (OMERJ) que ganhou uma bolsa de estudos em uma escola particular, resolveu inscrever os seus alunos, por acreditar que a prova vinha de encontro ao que ele acreditava: resolver problemas interessantes sem muita ferramenta, mas com bastante estratégia e raciocínio.


O resultado foi bem significativo. No ano seguinte, uma nova conquista, dessa vez nas Olímpiadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), criada naquele ano. A escola Silveira Sampaio foi tão bem que o prêmio do Ministério dos Esportes foi a construção de uma quadra com teatro.

 

Na Francis Hime, o trabalho de participação em competições, antes pequeno, foi crescendo, e os resultados se tornaram ainda mais surpreendentes. Ao todo, os alunos da escola já conquistaram 502 premiações e 245 medalhas. Já os professores receberam 11 premiações e a escola 33, tornando-se uma referência nacional.

 

O aluno Angel é um premiado. Diagnosticado com Altas Habilidades, o aluno estudava em um colégio particular tradicional até o ano passado. Sua transferência para a Francis Hime foi indicada exatamente por sua facilidade com os números, lá se desenvolveria melhor. Inscrito na competição Canguru de Matemática, este ano, o estudante conquistou a medalha de bronze e já faz planos para os próximos meses:

 

- Agora quero ganhar medalha na OBMEP.

 

João Victor, de 13 anos, aluno do 8º ano também se destaca nas competições. Mesmo treinando em um time de futebol e sonhando em se profissionalizar no esporte, dedica-se ao máximo nos estudos. Hoje coleciona medalhas na OMERJ, OBMEP e Canguru.

 

- Quando cheguei à escola não gostava de estudar, muito menos de matemática. Com as aulas do Luiz Felipe passei a ter facilidade com a disciplina – relembrou João Victor.

 

Os ex-alunos também são lembrados com carinho pelo professor.

 

- Dois deles foram para o Instituto Militar de Engenharia. Um deles, Marlon Carvalho Benjamin, participou de uma avaliação realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com os vencedores das Olimpíadas de Matemática. Obteve o primeiro lugar. Buscaram em todo o Brasil e o maior gênio estava aqui - contou o professor.

 

Para Luiz Felipe, a maior conquista do seu trabalho é promover uma grande chance de mudança social através da Matemática:

 

- As competições transformam a vida de um aluno, mostrando que ele é capaz de vencer qualquer dificuldade, inclusive os obstáculos de sua própria vida.

 

 

O docente acredita que o compromisso dos professores das escolas públicas é oferecer ensino de qualidade. Por isso, além das aulas em horário escolar, ele realiza treinamentos olímpicos, fora do horário escolar e aos sábados. Dois ex-alunos o auxiliam na tarefa.

 

​A trajetória do professor se mistura a dos seus alunos. Luiz Felipe sempre estudou em escola pública: Machado de Assis, em Santa Teresa, Alina de Britto e Silveira Sampaio, em Curicica, e Brigadeiro Schorcht, na Taquara. Fez graduação na UERJ. Em escolas privadas, só uma pós-graduação na PUC e mestrado na Unirio. Hoje faz doutorado na UFRJ. O caminho acadêmico percorrido até aqui também tem relação com as crianças que educa.

 

- Eles consomem tanta matemática que começaram a me trazer problemas que eu mesmo não conseguia resolver. Ou seja, estavam ficando melhores que eu - brincou Luiz Felipe.


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